segunda-feira, maio 06, 2013


JUBIABÁ

Episódio Nº 8

Era por isso que ele gostava tanto de Zé Camarão, um desordeiro que vivia sem trabalhar e que até já era fichado na polícia como malandro.

Zé Camarão tinha duas grandes virtudes para António Balduíno.: era valente e cantava ao violão histórias de cangaceiros célebres. Tocava também coisas tristes, valsas e canções, nas festas dos casebres no Morro do Capa Negra e em todas as outras festas pobres da cidade nas quais era elemento indispensável.

Era um mulato alto e amarelado eternamente gingando o corpo, que criara fama desde que desarmara dois marinheiros com alguns golpes de capoeira.

Havia quem não gostasse dele, que o olhasse com maus olhos, porém Zé Camarão passava horas e horas ensinando aos garotos do morro o jogo da capoeira, tendo uma paciência infinita com eles.

Rolava no chão com os moleques, mostrava como se aplica um rabo de arraia, como se arrancava o punhal da mão de um homem. Era amado pela garotada que o queria como a um ídolo.

António Balduíno gostava de andar com ele, de ouvir o desordeiro contar casos da sua vida. E como já era o melhor aluno de capoeira, queria também aprender violão.

- Você me ensina, Zé Camarão?

 - Deixa estar que eu ensino.

Levava recados para as namoradas de Zé Camarão e o defendia quando diziam mal dele.

 - É meu amigo. Por que não vai dizer na frente dele? Tem medo, taí…

Zé Camarão era dos certos na conversa em frente da porta da negra Luísa. Vinha gingando o corpo no seu jeitão malandro e ficava de cócoras pitando um cigarro barato. Ouvia os casos, as histórias, as discussões, sem falar.

Porém quando alguém contava um caso que impressionava os ouvintes, Zé Camarão descansava o cigarro atrás da orelha e falava:

 - Hum! Hum! Isso não é nada comparado com um caso que passou-se comigo…

E vinha uma aventura, uma história cheia de detalhes para que ninguém duvidasse da sua veracidade. E quando via nos olhos de algum assistente um sinal de dúvida o mulato não se alterava.

 - Se duvida, seu mano, pergunte a Zé Fortunato que estava comigo.

Sempre havia alguém que estivera com ele. Sempre uma testemunha ocular que não o deixava mentir. E em todas as coisas de barulho que aconteciam na cidade, Zé Camarão estava metido, pelo que se dizia.

Se conversavam sobre um crime ele interrompia.

 - Eu estava bem pertinho…

E contava a sua versão, versão na qual ele tinha sempre um papel saliente. Mas, quando era preciso, brigava de verdade. Que o dissesse o Lourenço da venda, que tinha na cara dois talhos de navalha. Não quisera ele, espanhol sujo, botar Zé Camarão para fora da sua venda?

As cabrochas que ouviam as conversas olhavam para ele. Gostavam do seu jeito de desordeiro, da sua fama de corajoso, do modo imaginoso que ele tinha para contar um caso fazendo comparações com elas e com coisas delas, o sorriso, os olhos, a boca vermelha, e gostavam especialmente de vê-lo cantar no violão com a sua voz cheia.

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