sexta-feira, junho 21, 2013

António Balduíno
JUBIABÁ

Episódio Nº 48


Mostraram o negro que conversava num grupo. O homem se aproximou, raspando o chão com a bengala:

 - É você que é António Balduíno?

Balduíno pensou que fosse alguém da polícia:

 - Porque pergunta?

 - Não é você que faz sambas? – o homem apontava com a bengala.

 - Invento umas coisinhas…

 - Quer cantar para eu ouvir?

 - Se mal lhe pergunto que interesse tem nisso?

 - Pode ser que eu compre.

António Balduíno estava bem preciso de dinheiro para comprar um sapato novo que vira na feira da Água dos Meninos. Foi buscar o violão e cantou vários sambas. O homem gostou de dois.

 - Quer me vender estes?

 - Para que o senhor quer?

 - Por que gostei…

 - Vendo.

 - Dou vinte mil réis pelos dois…

 - Tá bem pago… Quando quiser mais…

O homem fez António Balduíno assobiar as músicas e tomou nota num papel cheio de risquinhos. Escreveu as letras:

 - Depois eu volto aqui para comprar mais…

Desceu com a bengala arrastando. Os moradores do morro ficaram olhando. António Balduíno se estendeu na porta da venda e botou as duas notas de dez mil réis em cima da barriga nua. Ficou pensando no sapato novo que ia comprar e no corte de chita que levaria para Joana.

O homem de bengala, que adquirira os sambas, disse de noite num Café no centro da cidade.

 - Fiz dois sambas formidáveis…

Cantou batendo os dedos na mesa. Os sambas depois apareceram em discos e foram cantados na rádio, tocados ao piano. Os jornais diziam:

«O maior sucesso deste carnaval foram os sambas do poeta Anísio Pereira, que são de enlouquecer»

António Balduíno não lia jornais, não ouvia rádio, não tocava piano. Continuou a vender sambas ao poeta Anísio Pereira.


Joana trazia os cabelos soltos, cabelos que ela espichava cuidadosamente, e os perfumava com um perfume que tonteava António Balduíno.

Ele enfiava o nariz chato no cangote dela, suspendia o cabelo e ficava aspirando aquele perfume. Ela dizia rindo:

 - Tira o focinho do meu pescoço…

Ele ria também:

 - Que bidum gostoso…

Jogava a negra de costas na cama. A voz dela vinha de longe:

 - Seu cão…

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