Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
(continuação – Parte II)
É convencional supor que os Pais Fundadores da república
norte-americana eram deístas (em geral, acreditam que as ideologias
religiosas devem tentar reconciliar e não contradizer a ciência, ou seja, o deísmo
pode ser considerado uma derivação do teísmo agnóstico.
Assim, um dos princípios fundamentais desta posição é baseada na consolidação
de que Deus existe e criou o universo físico, mas
não interfere com ele).
Não há dúvida de que muitos
deles o eram, embora já tenha sido afirmado que os mais notáveis de entre eles
poderão ter sido ateus. Aqui lo que
escreveram sobre religião no seu tempo não me deixa dúvidas de que, na sua
maior parte, eles teriam sido ateus nos tempos de hoje.
As opiniões religiosas dos Pais
Fundadores revestem-se, hoje em dia, de um grande interesse para os
propagandistas da direita americana, ansiosos por nos impingirem a sua versão
da história.
É frequente apontar-se o
paradoxo existente na circunstância dos EUA, fundados sobre uma base de
secularismo, serem hoje o mais beato dos países da cristandade, enquanto a
Inglaterra, com uma igreja oficial chefiada pelo monarca constitucional, está
entre os países com menor grau de religiosidade.
Estão constantemente a
perguntar-me porque isto acontece e eu não sei.
É possível que a Inglaterra se
tenha fartado de religião após uma aterradora história de violência entre
crenças, com protestantes e católicos a substituírem-se alternadamente na mó de
cima e cada um dos grupos a matar sistematicamente o outro.
Outra hipótese reside no facto
da América ser uma nação de imigrantes. Um colega chamou-me a atenção para o
facto de estes, desenraizados da estabilidade e do conforto dos parentes que
tinham na Europa, poderem muito bem ter abraçado a Igreja como uma espécie de
substituto da família em solo estrangeiro.
É uma ideia interessante e que
vale a pena investigar com maior profundidade. Não há dúvida de que muitos
norte-americanos vêem a sua igreja local como uma importante unidade
identitária, efectivamente dotada de alguns dos atributos do agregado familiar.
Outra hipótese, ainda, é que o
fanatismo religioso dos EUA provenha paradoxalmente do secularismo da sua
Constituição.
Precisamente porque os EUA são,
juridicamente, um país secular, a religião ter-se-ta tornado um negócio.
Rivalizando entre si, as igrejas rivais competem para conseguir fiéis – e não
menos pelo gordo dízimo que estes trazem consigo – mantendo a rivalidade
através de todas as técnicas agressivas de venda conhecidas no mercado.
O que funciona para os
detergentes também funciona para Deus e o resultado é uma espécie de mania da
religião por parte das classes menos instruídas.
Por oposição, em Inglaterra a
religião tornou-se, sob a égide da Igreja oficial, pouco mais do que um
agradável passatempo social, dificilmente reconhecido como religioso.
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