sexta-feira, junho 28, 2013

MONOTEÍSMO

Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”

(continuação – Parte II)


É convencional supor que os Pais Fundadores da república norte-americana eram deístas (em geral, acreditam que as ideologias religiosas devem tentar reconciliar e não contradizer a ciência, ou seja, o deísmo pode ser considerado uma derivação do teísmo agnóstico. Assim, um dos princípios fundamentais desta posição é baseada na consolidação de que Deus existe e criou o universo físico, mas não interfere com ele).

Não há dúvida de que muitos deles o eram, embora já tenha sido afirmado que os mais notáveis de entre eles poderão ter sido ateus. Aquilo que escreveram sobre religião no seu tempo não me deixa dúvidas de que, na sua maior parte, eles teriam sido ateus nos tempos de hoje.

As opiniões religiosas dos Pais Fundadores revestem-se, hoje em dia, de um grande interesse para os propagandistas da direita americana, ansiosos por nos impingirem a sua versão da história.

É frequente apontar-se o paradoxo existente na circunstância dos EUA, fundados sobre uma base de secularismo, serem hoje o mais beato dos países da cristandade, enquanto a Inglaterra, com uma igreja oficial chefiada pelo monarca constitucional, está entre os países com menor grau de religiosidade.

Estão constantemente a perguntar-me porque isto acontece e eu não sei.

É possível que a Inglaterra se tenha fartado de religião após uma aterradora história de violência entre crenças, com protestantes e católicos a substituírem-se alternadamente na mó de cima e cada um dos grupos a matar sistematicamente o outro.

Outra hipótese reside no facto da América ser uma nação de imigrantes. Um colega chamou-me a atenção para o facto de estes, desenraizados da estabilidade e do conforto dos parentes que tinham na Europa, poderem muito bem ter abraçado a Igreja como uma espécie de substituto da família em solo estrangeiro.

É uma ideia interessante e que vale a pena investigar com maior profundidade. Não há dúvida de que muitos norte-americanos vêem a sua igreja local como uma importante unidade identitária, efectivamente dotada de alguns dos atributos do agregado familiar.

Outra hipótese, ainda, é que o fanatismo religioso dos EUA provenha paradoxalmente do secularismo da sua Constituição.

Precisamente porque os EUA são, juridicamente, um país secular, a religião ter-se-ta tornado um negócio. Rivalizando entre si, as igrejas rivais competem para conseguir fiéis – e não menos pelo gordo dízimo que estes trazem consigo – mantendo a rivalidade através de todas as técnicas agressivas de venda conhecidas no mercado.

O que funciona para os detergentes também funciona para Deus e o resultado é uma espécie de mania da religião por parte das classes menos instruídas.

Por oposição, em Inglaterra a religião tornou-se, sob a égide da Igreja oficial, pouco mais do que um agradável passatempo social, dificilmente reconhecido como religioso.

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