O grande mal indizível no centro da nossa cultura é o monoteísmo. A partir de um texto bárbaro da Idade do Bronze conhecido como Antigo Testamento, evoluíram três religiões anti-humanas – o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Trata-se de religiões de um deus do céu. São literalmente patriarcais – Deus é o Pai Todo-Poderoso – daí o desprezo pelas mulheres desde há 2.000 anos nos países atormentados por esse deus do céu e pelos seus representantes masculinos na terra.
Gore Vidal (escritor norte-americano
nascido em 1925)
A mais velha das três religiões abraâmicas, e nítido antepassado das outras duas, é o judaísmo: originariamente era um culto tribal de um único Deus ferozmente antipático, doentiamente obcecado por restrições sexuais, pelo cheiro da carne queimada, pela sua própria superioridade relativamente aos deuses rivais e pela exclusividade da tribo do deserto que elegeu como sua.
Durante a ocupação romana da
Palestina, o Cristianismo foi fundado por Paulo de Tarso enquanto facção do
Judaísmo, uma facção menos implacavelmente monoteísta e também menos fechada
que, levantando os olhos do meio dos judeus, os erguia para o resto do mundo.
Vários séculos mais tarde,
Maomé e os seus seguidores regressaram ao monoteísmo intransigente da versão
original judaica, embora sem a sua vertente exclusivista.
Fundaram, assim, o Islamismo
com base num novo livro sagrado, o Corão ou Quran, ao qual acrescentaram uma
poderosa ideologia de conqui sta
militar para a propagação da fé.
Também o Cristianismo se
propagou por meio da espada, brandida primeiro pelas mãos dos Romanos – depois do
Imperador Constantino o ter promovido de culto excêntrico a religião oficial –
posteriormente pelos cruzados e, mais tarde, pelos conqui stadores
espanhóis e outros invasores e colonos europeus, com o respectivo
acompanhamento missionário.
Para os meus objectivos
presentes, as três religiões abraâmicas podem ser, de um modo geral, tratadas como
indistintas.
Salvo menção em contrário,
terei sobretudo em mente o Cristianismo, mas apenas porque é versão que me é
mais familiar.
Para os referidos
objectivos, as diferenças têm menos importância do que as semelhanças. E não
visarei minimamente outras religiões, como o Budismo e o Confucionismo. Na
verdade há razões para afirmar que não se trata de religiões, mas sim, sistemas
éticos ou filosofias de vida.
A simples definição da Hipótese
Deus com que comecei este capítulo tem de ser substancialmente descarnada se a qui sermos aplicar ao Deus abraâmico. Ele não só
criou o universo, como é também um Deus “pessoal” que habita dentro desse
universo, ou talvez fora dele (o que quer que isso signifique), possuindo as
qualidades desagradavelmente humanas às quais já aludi.
(continua)
(continua)
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