quarta-feira, junho 19, 2013

O grupo foi-se dissolvendo...
JUBIABÁ

Episódio Nº 46


E Filipe, o Belo, morreu debaixo de um automóvel. Era também uma manhã clara e Filipe estava cada vez mais lindo. Mesmo a marca de chicote que lhe ficara na cara lhe dava um ar de aventureiro.

Arranjara uma gravata nova e comemorava o seu décimo terceiro aniversário. Os outros riam e brincavam. Foi quando no asfalto da rua, brilhou qualquer coisa como um diamante. Balduíno enxergou e disse:

 - Parece um brilhante…

Filipe, o Belo, se alvoraçou:

 - Ah! vou apanhar para pôr no dedo. É meu presente de aniversário… Correu para o meio da rua. Viriato ainda chegou a gritar para avisar da vinda do automóvel.

Filipe olhou rindo e foi o seu último sorriso. Ficou feito um monturo, um bolo de carnes que ainda gemia. Morreu com o sorriso que fizera agradecendo o aviso de Viriato.

O rosto não fora atingido e era belo, radioso, rosto de príncipe. O corpo foi levado para o necrotério. Veio uma mulher pintada e velhusca que dizia entre lágrimas:

 - Mon chèri… Mon chèri…

E beijava o rosto de Filipe, o Belo. Mas ele não via mais nada e não sabia que era sua mãe que estava ali. Não sabia também que o grupo se reunira de novo para o seu enterro.

Veio o Sem dentes, veio Jesuíno, até Cici veio não se sabe de onde. Só não veio Zé Casquinha que era marinheiro e estava viajando.

A mãe de Filipe e as mulheres da rua de Baixo levaram flores. E os moleques o vestiram com uma roupa de casimira, comprada a um turco que vendia roupa feita a prestações.

Sòmente Viriato, o Anão, que cada vez estava menor e mais curvo, ficou mendigando. Os outros se distribuíram pela cidade em diversos ofícios, operários de fábricas, trabalhadores de rua, carregadores do cais.

O Gordo foi vender jornais porque tinha uma bela voz. António Balduíno voltou ao morro do Capa Negro, e ficou malandreando com Zé Camarão, jogando capoeira, tocando violão nas festas, indo às macumbas de Jubiabá.

Ia ao cais todas as noites e ficava espiando o mar a caminho de casa.


LANTERNA DOS AFOGADOS


Quando seu António comprou a «Lanterna dos Afogados» à viúva de um marinheiro que a montara há muitos anos, ela já tinha este nome e, em cima da porta, ostentava aquela tabuleta mal pintada, na qual uma sereia salva um afogado.

O marinheiro que montara o botequim desembarcara um dia de um cargueiro e ancorara ali naquela, naquela velha sala negra do sobrado colonial.

Amara uma mulata escura que fazia arroz doce para os fregueses e fornecia bóia aos trabalhadores do cais do porto.


Porque chamara ao botequim de «Lanterna dos Afogados» ninguém sabia. Sabiam porém que ele naufragara três vezes e que correra o mundo todo.

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