Santarém - Capital do Gótico |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém)
A austeridade é a forma pela qual os
pobres pagam os erros dos ricos…
É esta a versão moderna de uma verdade
muito antiga que respeita à qualidade da governação na vida dos povos. Noutros
tempos, suportavam o desinteresse e desleixo dos seus reis que os faziam pagar
com as vidas em guerras para satisfazer as suas ambições políticas e rivalidades
pessoais e familiares.
Então,
o povo pouco ou nada interferia na escolha dos seus chefes e pensou-se que se
um dia pudessem ser eles a escolher as coisas mudariam de figura.
A realidade mostra que hoje, como ontem,
a qualidade da governação parece escapar-se à vontade dos povos mesmo quando
são eles a escolher os governantes em eleições livres e democráticas. Vemos o
que se está a passar na Grécia e aqui ,
no nosso país, e perguntamos o que é que os cidadãos fizeram de mal para serem
castigadas desta maneira.
-
Por que são eles obrigadas a pagar dívidas que nunca contraíram nas suas vidas?
-
Por que ficam sem trabalho quando foram competentes e responsáveis no
desempenho das suas funções?
-
Afinal, o que se lhes exige?
-
O que está no segredo do sucesso de um povo e explica o insucesso de outro ali
ao lado?
-
Que crise é esta que varre, neste momento, a Europa até há bem pouco tempo
rejubilante de bem-estar e convencida da sua superioridade em todos os
domínios?
Até nós, portugueses, escondidos aqui na pontinha da península Ibérica, ignorados
durante anos, para muitos considerados uma parte da Espanha – ainda me lembro
de me terem mostrado, em 1956/7 o envelope de uma carta dirigida a um professor
meu e remetida por um universitário italiano que referia no endereço: Lisboa –
Espanha.
Mas até nós, dizia eu, tivemos um Prémio
Nobel da Literatura, a Exposição Internacional de Lisboa em 1998 e recebemos no
nosso país para trabalhar na construção civil europeus de países de Leste com
cursos superiores…
Hoje, como se tivéssemos sido atingidos
por maleita maldita, do tipo da “peste negra”, todos se foram embora… ficámos
nós para lhe seguirmos agora as pisadas, os mais jovens e os melhores para
futuros desconhecidos e, como sempre, os velhos e pensionistas, tristes e
desalentados, que pasmam no banco dos jardins com as suas magras pensões…
Leio o que diz o notável sociólogo
António Barreto: “A União Europeia criou novas
oportunidades mas destruiu tradição e segurança”.
E Augusto Mateus, coordenador de um
estudo sobre os 25 anos de Fundos Estruturais, refere à laia de conclusão: “Um semi-falhanço porque o tempo de uma geração não foi
suficiente para tirar Portugal da condição de país da coesão”.
Nunca como agora ouvimos e lemos, tanto
na televisão como nos jornais, a opinião de políticos, economistas, professores
de Faculdade, ex-governantes: 1ºs ministros e ministros, todos eles preenchendo
espaços de informação, rivalizando uns com os outros em mesas redondas nos vários
canais e em simultâneo.
Fazem-me lembrar a conversa de comadres
que perdem tempo infinito nos passeios e esqui nas
das ruas falando das suas maleitas…mas sem esperança de virem a melhorar.
Refugiam-se na coscuvilhice das
telenovelas que monopolizam as audiências e na indecência moral e atentado ao
bom gosto dos big brothers.
Os homens têm ainda as mesas redondas do
futebol que, tal como as políticas, rivalizam igualmente entre si numa espécie
de novo desporto que funciona hoje, cada vez mais, como uma válvula de escape, enquanto,
embasbacados, olham a televisão esquecidos na sua triste existência, perdida
a “tradição e a segurança", como diz o sociólogo António Barreto, precisando, apenas, de descobrir e embarcar nas "novas oportunidades" ganhando uma nova esperança.
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