CONSOLO? (Parte I)
(continuação)
Segundo o Dicionário, consolo é o alívio
da dor ou do sofrimento mental.
Vamos dividi-lo em dois tipos:
1º - Consolo Físico Imediato
Um homem à noite, isolado num monte
descampado, pode achar conforto num São Bernardo Grande e aconchegante, sem
esquecer, claro, o barril de aguardente à volta do pescoço.
Uma criança que chora pode ser consolada
pelos braços fortes que a envolvem e por palavras tranqui lizadoras
sussurradas ao ouvido.
2º Consolo pela descoberta de um facto
antes descurado, ou uma forma antes desconhecida de encarar factos ocorridos.
Uma mulher cujo marido tenha sido morto
na guerra pode ser consolada pela descoberta de que está grávida dele ou de que
ele morreu como um herói. Também podemos retirar consolo da descoberta de uma
nova forma de encarar uma dada situação.
Um filósofo faz notar que não há nada de
especial no momento em que um velho morre. A criança que em tempos ele foi
“morreu” há muito, não por ter deixado subitamente de viver, mas por ter
crescido.
Cada uma das sete idades do homem, de
que nos fala Shakespeare, “morre” lentamente ao transformar-se na seguinte.
Deste modo, quando chega o momento do velho morrer não é diferente das “mortes”
lentas que ele teve ao longo da vida.
Um homem que não se compraz com a perspectiva
da própria morte poderá achar consoladora esta visão alternativa. Ou talvez não
ache, mas em todo o caso este não deixa de ser um exemplo potencial de consolo
através da reflexão.
Outro exemplo da rejeição do medo da
morte foi formulada por Mark Twain: “Não tenho medo da morte. Estive morto
durante milhões de milhões de anos antes de nascer, e não senti o mais pequeno
incómodo por isso”.
Esta tomada de consciência em nada
altera o facto de que a nossa morte é inevitável mas foi-nos oferecida uma
maneira diferente de olhar para essa inevitabilidade que podemos achar
consoladora.
Thomas Jefferson também não tinha medo
da morte e não parece que acreditasse em nenhuma espécie de vida após a morte:
- Quando os seus dias começaram a
aproximar-se do fim, por mais de uma vez, Jefferson escreveu aos seus amigos
dizendo que era sem esperança nem medo que encarava o final o que era o mesmo
que dizer, inequi vocamente, que não
era cristão.
Bertrand Russel, no seu ensaio de 1925 “Wahat
I Believe”, “Aqui lo em que Acredito”,
dizia:
-
“Acredito que quando morrer vou apodrecer e nada do meu ego irá sobreviver. Não
sou jovem e amo a vida… apesar de tudo, a felicidade só é verdadeiramente
felicidade porque tem de ter um fim, do mesmo modo que o pensamento e o amor
não valem menos por não serem eternos…”
(Richard Dawkins)
(continua)
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