segunda-feira, julho 29, 2013

Agora  não sou mais malandro....
JUBIABÁ

Episódio Nº 70


Fiz boxeadores que hoje são campeões no mundo todo… Mas nenhum aguentava aquele soco. Bonito…

Quando saíram do botequim, António Balduíno estava contratado por Luigi, o treinador e o gordo iria com eles como ajudante.

Saíram todos um pouco embriagados. No outro dia António Balduíno disse a dos Reis.

 - Agora não sou mais malandro… Sou jogador de boxe… Vou ser um campeão… Depois vou para o Rio, para a América do Norte…

 - Você vai embora?

 - Lhe levo, meu bem.

Era melhor que Oxalá, o maior dos santos.


Os jornais anunciaram a primeira luta meses depois. Agora ele era Baldo o negro. Luigi dava entrevistas e um jornal até publicou o retrato de António Balduíno com o braço estendido para dar um soco, a outra mão numa atitude de defesa. Maria dos Reis colocou o retrato na parede do quarto.

O adversário chamava-se Gentil, e dizia-se campeão de pesos pesados da armada. Na verdade era um estivador do cais do porto.


No Largo da Sé estavam todos os amadores das lutas de boxe e mais frequentadores da “Lanterna dos Afogados”, inclusive seu António, os moradores do Morro do Capa Negro, os amigos todos de António Balduíno.

Primeiro entrou no tablado o juiz, um sargento do exército que estava à paisana. Falou:

 - Vamos ver uma luta braba. Peço ao público muito respeito e aplausos.

Chegou o Gordo trazendo o balde e uma garrafa. Veio também um amarelo com as mesmas coisas e ficou do outro lado. Aí apareceu António Balduíno acompanhado de Luigi.

O pessoal do morro, da “Lanterna dos Afogados”, dos saveiros e das canoas gritou:

 - António Balduíno! António Balduíno!

O juiz apresentou:

 - Baldo, o negro.

Entrava o outro boxeador que era aplaudido pela assistência:

 - Gentil, campeão de todos os pesos da gloriosa armada – gritou o juiz.

Palmas e gritos da assistência. O pessoal do morro, dos saveiros e do botequim, olhava o mulato com olhos irónicos.

 - Vai levar uma surra…

António Balduíno também olhava o seu adversário e sorria. Luigi dava conselhos:

 - Soque ele com força. Na boca e nos olhos. Bem forte…

O gordo estava nervoso e rezava para que o amigo vencesse. Mas se lembrou que a luta de boxe era pecado e parou de rezar amedrontado.


Soou um sinal e os lutadores avançaram um para o outro. Atrás, a multidão gritava.

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