terça-feira, julho 30, 2013

António Costa, o político melhor preparado do Partido Socialista
ANTÓNIO 

COSTA




António Costa não é um homem qualquer. É o nº 2 do PS, ex-ministro e actual Presidente da Câmara de Lisboa. Fala com conhecimento de causa, sabe o que diz, e disse o seguinte no programa Quadratura do Círculo, textualmente:



« (...) A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex., no têxtil.

Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.

 E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.

Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia.

 Podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!

 A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados.

Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se Institutos inúteis, Fundações fraudulentas e empresas Municipais fantasmas.

A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha.

 E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais era preso a que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as Parcerias Público-Privadas e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.

Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos e, como consequência, os sacrifícios por que estamos a passar.

 Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das Contas Públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam.

 Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir Organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões sem penalizar os cidadãos.

 Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.»


NOTA

É um testemunho público, verdadeiro e honesto, do melhor político partidário português e que eu espero venha a liderar o PS num governo maioritário socialista.

Receio, contudo, que caso os meus desejos se venham a concretizar, António Costa não tenha a suficiente força de carácter para se impor aos interesses que, tal como borboletas, esvoaçam em redor do partido. E este receio é fundado por aquilo que vimos da anterior actuação no Governo do partido Socialista e é característico dos partidos do arco da governação.

Por outro lado, teria sido exigir demais neste depoimento, que António Costa admitisse, independentemente das verdades ditas sobre as políticas europeias, que houve graves erros de avaliação sobre aspectos muito importantes de investimentos públicos da responsabilidade do PS, alguns deles já assumidos publicamente, caso de Guterres e de Cravinho, políticos decisivos do Partido Socialista e do Poder em Portugal.

O sociólogo António Barreto, estudioso qualificado da realidade portuguesa, faz das políticas europeias exactamente a mesma leitura que António Costa e leva-nos a concluir que “caímos que nem patinhos” no engodo que a Europa nos preparou com os seus apoios financeiros comunitários espartilhados por uma moeda, o Euro, demasiado forte para a nossa economia, dificultando as exportações e impedindo-nos de mexer no seu valor como fazíamos antes com o Escudo. Como agravante, não demos aos milhões do engodo que vieram da Europa, o melhor destino.

A abertura aos países de Leste da Comunidade Europeia e anos mais tarde à China eliminou milhares de empregos em pequenas empresas ou de natureza familiar caracterizadas por baixos salários agora ultrapassados pelos países de Leste e pelos chineses.

Neste momento, os portugueses vão continuar a percorrer, e por muito tempo, o caminho do calvário porque, embora a culpa não fosse deles, e António Costa reconhece-o, é sempre sobre o povo que recaem as consequências dos erros dos políticos, sejam nacionais ou europeus.

Carpir mágoas não resolve problemas para além de representar um desperdício de energias. A minha intuição é de que a Europa e os portugueses continuam à espera de uma completa Reforma do Estado: … “Institutos inúteis, Fundações fraudulentas, empresas municipais fantasmas” no dizer de António Costa… para além desse objectivo olímpico, nunca alcançado, de rigor e seriedade na Administração do Estado… depois, será uma questão de tempo e sorte…

Portugal é a nação mais antiga da Europa com as actuais fronteiras e, para além disso, temos uma preparação histórica de abandono e sofrimento…. que o digam os portugueses espalhados pelo mundo muitos dos quais por lá ficaram e criaram raízes.

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