quarta-feira, julho 24, 2013

Argumentos a Favor da Existência de 

Deus

Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
(continuação)


Finalmente o Argumento da “experiência Pessoal”

Um dos meus antigos colegas da universidade, mais dotado e maduro, que era muito religioso, foi acampar nas ilhas escocesas.

A meio da noite, dormia com a namorada sob a tenda quando foram acordados pela voz do Diabo – do próprio Satanás, não havia margem para dúvidas: a voz era em tudo diabólica.

O meu amigo nunca viria a esquecer essa terrível experiência, que de resto, foi um dos factores que mais tarde o levaram a ser ordenado sacerdote.

O meu jovem ego ficou impressionado com esta história, que relatei perante um grupo de zoólogos, num momento de descontracção no Rose and Crown Inn, em Oxford.

Por acaso dois deles eram ornitólogos experientes e riram às gargalhadas. «Pardela da Ilha de Man», gritaram em alegre coro.

Um deles acrescentou que os cacarejos e guinchos diabólicos desta espécie lhe valeram em várias partes do mundo e em diversas línguas, a alcunha local de “Pássaro do Diabo”.

Muitas pessoas acreditam em Deus porque acreditam ter tido, com os próprios olhos, uma visão dele – ou de um anjo, ou de uma Nossa Senhora vestida de azul.

Ou então, porque dentro das suas cabeças, Deus fala com elas.

Este argumento da experiência pessoal é o mais convincente para os que afirmam ter tido tal experiência, mas é o menos convincente para o resto das pessoas e para quem quer que esteja bem informado sobre psicologia.

Há quem diga que teve uma experiência directa de Deus? Bem, há quem diga que teve uma experiência com um elefante cor-de-rosa, mas isso provavelmente já não deixa ninguém impressionado.

Peter Sutcliffe, o estripador do Yorkshire, ouvia distintamente a voz de Jesus a dizer-lhe que matasse mulheres e foi parar à prisão para o resto da vida.

George Bush afirmou que Deus lhe disse para invadir o Iraque (que pena Deus não lhe ter revelado de que não existiam armas de destruição maciça).

Há indivíduos em hospícios que pensam ser Napoleão ou Charlie Chaplin, ou que todo o mundo conspira contra eles, ou que conseguem transmitir seus pensamentos para a cabeça de outras pessoas.

As experiências religiosas são diferentes destas apenas no facto de as pessoas que as reivindicam serem em grande número.

Sam Harris não estava a ser cínico em demasia quando, em The End of Faith, escreveu:

 - «Temos nomes para chamar às pessoas que têm muitas crenças para as quais não existe justificação racional. Quando as suas crenças são extremamente comuns chamamos-lhe, simplesmente “religiosas”».

É óbvio de que a sanidade depende dos números. E, no entanto, é por mero acidente da história que se considera normal na nossa sociedade acreditar que o Criador consegue ouvir os nossos pensamentos, mas já será sinal de doença mental acreditar que ele comunica connosco fazendo a chuva tamborilar em código morse contra a janela do nosso quarto.

E assim, embora de um modo geral, as pessoas religiosas não sejam loucas, as suas crenças mais profundas são-no.»

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