Pai santo Jubiabá |
JUBIABÁ
Episódio Nº 55
As “feitas” rodavam em torno dos ogans e a assistência
reverenciava o santo pondo as mãos para ele, os braços em ângulos agudos, as
palmas das mãos viradas para o orixalá:
- Okê!
Todos gritavam:
- Okê! Okê!
Os negros, as negras, os mulatos, o homem calvo, o
Gordo, o estudante, toda a assistência animava o santo:
- Okê! Okê!
Então o santo penetrou no meio das “feitas” e dançou
também. O santo era Xangô, o deus do raio e do trovão, e trazia contas brancas
pintalgadas de vermelho sobre o vestido branco.
Veio e referenciou Jubiabá que estava no meio dos
ogans e era o maior de todos os pais de santo. Deu outra volta dançando e
reverenciou o homem branco e calvo que estava ali por convite de Jubiabá.
O santo reverenciava curvando-se três vezes diante da
pessoa, depois a abraçava apertando-lhe os ombros, e punha a cara ora de um
lado ora de outro da do reverenciado.
A mãe do terreiro cantava agora:
- Iya ri dé gbê
ô
- Afi dé si
ómón Iôwô
- Afi ilé ké si
ómón Iérun
E ela estava dizendo que:
- A mãe se
enfeita de jóias
- Enfeita de
contas o pescoço dos filhos
- E põe novas
contas no pescoço dos filhos…
E os ogans e a assistência faziam o coro pronunciando
uma onomatopeia que indicava o ruído das contas “que estavam todas a trincar”:
- « - omirô
wónrón wónrón ômirô
Foi quando Joana que já dançava como se estivesse em
transe, foi possuída por Omolu, a deusa da bexiga.
E saiu da camarinha vestida de roupa multicor, onde
predominava o vermelho vivo, as calças parecidas àquelas velhas ceroulas, as
pontas bordadas aparecendo sob a saia.
O tronco estava quase nu, um pano branco amarrado nos
Mas ninguém via nela a negrinha Joana. Nem António
Balduíno via a sua amante Joana, que dormia sem sonhar no areal do cais do
porto.
Quem estava ali de busto despido, era Omolu, a deusa
terrível da bexiga. Da mãe do terreiro vinha a voz monótona saudando a entrada
do santo:
« - Edurô dêmin Ionan ê yê!
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