existência de Deus
(continuação)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
Eu sei que são idiotas,
hilariantes mas na Internet “estão mais de 300 provas da existência de Deus”.
Deste lote escolhemos algumas:
36 – Argumento
da devastação incompleta: Um avião caiu, do que resultou a morte
de 143 passageiros e da tripulação. Mas uma criança sobreviveu só com
queimaduras de terceiro grau.
Logo, Deus existe.
37 – Argumento
dos mundos possíveis: Se tudo se tivesse passado
de modo diferente, tudo seria diferente. Isso seria mau.
Logo, Deus existe.
38 –
Argumento da pura vontade: Eu acredito mesmo em Deus!
Eu acredito mesmo em Deus! Acredito mesmo, mesmo, mesmo. Eu acredito mesmo em
Deus!
Logo, Deus existe.
39 – Argumento
da não-crença: A maioria da população
mundial não acredita no Cristianismo. Era isto que Satanás queria.
Logo, Deus existe.
40 – Argumento
da experiência pós-morte: A pessoa X morreu ateia.
Agora sabe que estava errada.
Logo, Deus existe.
41 –
Argumento da chantagem emocional: Deus ama-te. Como podes ser
tão cruel ao ponto de não acreditares nele?
Logo, Deus existe.
O Argumento da Beleza
Como justificar:
a) O Quarteto de Cordas Nº 15, em lá menor, de Beethoven? ...
b) E Shakespeare? …
c) E Miguel Ângelo? …
....
....
....
....
É claro que os quartetos da
última fase de Beethoven são sublimes, tal como são sublimes os sonetos de
Shakespeare mas sê-lo-iam sempre com Deus ou sem Deus.
Consta que um grande maestro
terá dito:
«Se temos Mozart para ouvir para que
precisamos de Deus?»
Fui uma vez convidado da
semana de um programa de rádio britânico chamado Desert Island Dises e foi-me
dito para escolher oito discos que levaríamos connosco se fossemos parar a uma
ilha deserta.
Entre as minhas escolhas
contava-se Mache dich mein Herzerein, da Paixão segundo São Mateus, de Bach. O
entrevistador disse não compreender como era possível eu escolher música
religiosa não sendo religioso.
É o mesmo que perguntar como
se pode gostar do Monte dos Vendavais quando se sabe perfeitamente que Cathy e
Heathcliff nunca existiram de facto.
Quando se atribui à religião
a Capela Sistina ou a Anunciação de Rafael deve argumentar-se que até os
grandes artistas têm de ganhar a vida, aceitando encomendas onde as houver.
Não tenho razões para
duvidar de que Rafael e Miguel Ângelo eram cristãos – era quase a única opção,
na época – mas tal facto é pouco mais que acessório. A imensa riqueza acumulada
pela Igreja fazia dela o principal patrono das artes.
Se a História tivesse
seguido um rumo diferente e a Miguel Ângelo tivesse sido pedido que pintasse o
tecto de um gigantesco Museu da Ciência, será que não tinha criado algo no mínimo
tão inspirador como a Capela Sistina?
Que pena nunca chegarmos a poder
ouvir a Sinfonia Mesozóica, de Beethoven ou a ópera o Universo em Expansão, de
Mozart ou a Oratória da Evolução de Hayden – mas isso não nos impede de
apreciar a sua Criação.
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