sexta-feira, julho 26, 2013

“Provas” da existência de Deus
(continuação)

Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”

O Argumento das Escrituras

Há ainda algumas pessoas que são persuadidas a acreditar em Deus pelas provas bíblicas.

Um argumento comum refere que, Jesus afirmava ser o Filho de Deus, ou teria razão ou era louco ou mentiroso. «Louco, mau ou Deus». Ou, para usar uma figura de linguagem tosca, «insano, falso ou Senhor».

De qualquer forma não existem provas históricas fortes que atestem que Jesus alguma vez tenha pensado ser divino.

O facto de haver algo escrito é convincente para aqueles que não estão habituados a fazer perguntas como:

 - “Quem o escreveu, e quando?”

 - “Como sabiam o que escrever?”

 - “Será que, naquele tempo, queriam realmente dizer aquilo que agora entendemos?”

 - “Eram observadores imparciais, ou tinham uma agenda pessoal que imprimia um certo viés àquilo que escreviam?”

Desde o Século XIX que estudiosos de Teologia vêm demonstrando de forma esmagadora que os Evangelhos não são relatos fiéis do que aconteceu na história do mundo real.

Todos eles foram escritos muito depois da morte de Jesus e também depois das epístolas de Paulo, que quase não mencionam os pretensos factos da vida de Jesus.

Foram todos copiados e recopiados ao longo de muitas “gerações de murmúrios chineses” diferentes por copistas falíveis, que, de qualquer modo, tinham também as suas próprias agendas religiosas.

Um bom enviesamento por causa de agendas religiosas é a reconfortante lenda do nascimento de Jesus em Belém, seguido do massacre dos inocentes por Herodes.

Quando os Evangelhos foram escritos, muitos anos após a morte de Jesus, ninguém sabia onde ele tinha nascido mas uma profecia do Antigo Testamento levaram os Judeus a pensarem que o tão esperado Messias nasceria em Belém.

À luz desta profecia o Evangelho de S. João faz concretamente notar que os seus seguidores ficaram surpreendidos por ele não ter nascido em Belém: “Outros afirmavam: “É o Messias!” Outros, porém, diziam: “O Cristo virá da galileia? Não diz a escritura que é da descendência de David e da povoação de Belém, de onde era David, que vem o Messias?”

Lucas, ao contrário, admite que Maria e José viviam em Nazaré antes de Jesus nascer. Então, como pô-los em Belém no momento crucial de modo a que a profecia fosse cumprida?

Lucas diz que no tempo em que Cirénio (Quirino) era governador da Síria, César Augusto decretou um censo para efeitos de impostos pelo que todos tiveram de regressar à sua “cidade de origem”. José era da casa e linhagem de David e, portanto, teve de ir para a cidade de David, que se chama Belém”. Esta deve ter parecido uma boa solução.

O problema é que historicamente se trata de um perfeito disparate, tal como já foi salientado por outros. David, a ter existido, viveu cerca de 1.000 anos antes de Maria e José.

Por que carga de água iriam os Romanos ordenar a José que voltasse à cidade onde um antepassado longínquo tinha vivido um milénio antes?


Houve, de facto, um recenseamento sob a autoridade do governador Quirino – um recenseamento local e não decretado por César Augusto para todo o império – mas mais tarde, no ano 6 D.C, ou seja, muito depois da morte de Herodes.

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