(continuação)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
O Argumento das Escrituras
Há ainda algumas pessoas que
são persuadidas a acreditar em Deus pelas provas bíblicas.
Um argumento comum refere
que, Jesus afirmava ser o Filho de Deus, ou teria razão ou era louco ou
mentiroso. «Louco, mau ou Deus». Ou, para usar uma figura de linguagem tosca,
«insano, falso ou Senhor».
De qualquer forma não
existem provas históricas fortes que atestem que Jesus alguma vez tenha pensado
ser divino.
O facto de haver algo
escrito é convincente para aqueles que não estão habituados a fazer perguntas
como:
- “Quem o escreveu, e quando?”
- “Como sabiam o que escrever?”
- “Será que, naquele tempo, queriam realmente
dizer aqui lo que agora entendemos?”
- “Eram observadores imparciais, ou tinham uma
agenda pessoal que imprimia um certo viés àqui lo
que escreviam?”
Desde o Século XIX que
estudiosos de Teologia vêm demonstrando de forma esmagadora que os Evangelhos
não são relatos fiéis do que aconteceu na história do mundo real.
Todos eles foram escritos
muito depois da morte de Jesus e também depois das epístolas de Paulo, que
quase não mencionam os pretensos factos da vida de Jesus.
Foram todos copiados e
recopiados ao longo de muitas “gerações de murmúrios chineses” diferentes por
copistas falíveis, que, de qualquer modo, tinham também as suas próprias
agendas religiosas.
Um bom enviesamento por
causa de agendas religiosas é a reconfortante lenda do nascimento de Jesus em
Belém, seguido do massacre dos inocentes por Herodes.
Quando os Evangelhos foram
escritos, muitos anos após a morte de Jesus, ninguém sabia onde ele tinha
nascido mas uma profecia do Antigo Testamento levaram os Judeus a pensarem que
o tão esperado Messias nasceria em Belém.
À luz desta profecia o
Evangelho de S. João faz concretamente notar que os seus seguidores ficaram
surpreendidos por ele não ter nascido em Belém: “Outros afirmavam: “É o
Messias!” Outros, porém, diziam: “O Cristo virá da galileia? Não diz a
escritura que é da descendência de David e da povoação de Belém, de onde era
David, que vem o Messias?”
Lucas, ao contrário, admite
que Maria e José viviam em Nazaré antes de Jesus nascer. Então, como pô-los em
Belém no momento crucial de modo a que a profecia fosse cumprida?
Lucas diz que no tempo em que Cirénio (Quirino)
era governador da Síria, César Augusto decretou um censo para efeitos de
impostos pelo que todos tiveram de regressar à sua “cidade de origem”. José era
da casa e linhagem de David e, portanto, teve de ir para a cidade de David, que
se chama Belém”. Esta deve ter parecido uma boa solução.
O problema é que historicamente
se trata de um perfeito disparate, tal como já foi salientado por outros. David,
a ter existido, viveu cerca de 1.000 anos antes de Maria e José.
Por que carga de água iriam
os Romanos ordenar a José que voltasse à cidade onde um antepassado longínquo
tinha vivido um milénio antes?
Houve, de facto, um
recenseamento sob a autoridade do governador Quirino – um recenseamento local e
não decretado por César Augusto para todo o império – mas mais tarde, no ano 6
D.C, ou seja, muito depois da morte de Herodes.
<< Home