POMPEIA
Visitar Pompeia é dar um salto a um
passado com 2 mil anos como não é possível fazer em mais nenhum sítio do mundo.
Dezoito mil pessoas, 80% da população de
uma cidade que fervilhava de vida, tiveram uma morte horrível sacrificadas no
altar da história pelas cinzas de um vulcão para que hoje nos seja possível,
com toda a sem cerimónia, vasculhar nas suas vidas.
As ruínas de Pompeia constituem uma
espécie de cápsula do tempo e eu estou feliz por ter podido, na semana passada,
ainda que por um reduzido período de tempo, sentir o impacto de uma cidade à
qual apenas faltam pouco mais que as estruturas de madeira e que permaneceu
escondida debaixo de 7
metros de cinzas vulcânicas aguardando que a destapassem
para que de novo pudesse voltar à luz do sol.
A história de Pompeia é conhecida de
todos, muito em especial dos europeus, pois ela aconteceu numa cidade do sul da
Europa e na orla do Mediterrâneo onde se desenvolveu a cultura greco-romana que
mais influenciou aquilo que somos hoje como povo.
Mas saber, ver fotografias ou
documentários é muito diferente do que estar presente, olhar e sentir,
calcorrear ruas e passeios, entrar dentro das casas, observar os trilhos feitos
pelos rodados nas lajes das ruas ao longo dos séculos, ruas que numa cidade situada
numa encosta que ia dar praia, se transformavam em leitos de pequenos rios que
escoavam até ao mar as águas das chuvas.
Por esta razão, de tantos em tantos
metros, pedras mais altas 30 ou 40 centímetros colocadas de atravessado sem
impedirem a passagem das viaturas, permitiam que os seus habitantes passassem
de um passeio para o outro sem molharem os pés.
E ao longo das ruas lá estão as
tabernas, as padarias, lojas, aquilo que hoje seriam os restaurantes, edifícios
públicos, residências de pessoas ricas como a de Meneandro, única pela
quantidade e qualidade do artesanato que continha, bordéis (foram encontrados
25) o teatro, os armazéns, os grandes espaços públicos onde os comerciantes
discutiam sobre os negócios e eram expostas as estátuas dos deuses venerados
como Apolo, mas também os Templos (haviam 3 dedicados a Apolo, Júpiter e Vénus
e um 4º à deusa egípcia Ísis) as arenas, os banhos públicos, enfim, tudo o que
era uma cidade daquele tempo como que ressuscitada com tantos testemunhos que a
reprodução da vida do dia a dia daquelas pessoas pode hoje ser feita no
pormenor desde como viviam, comiam e até como faziam sexo o que terá permitido
à guia afirmar que os romanos eram bissexuais.
Os prostíbulos eram constituídos por uma
série de quartos cuja mobília era apenas uma cama de pedra com um colchão por
cima. À porta, uma simples cortina onde constava o preço e a especialidade da
prostituta.
Estas, conhecidas na antiguidade por
“lobas”, aguardavam os clientes à entrada vestindo uma toga curta e uma rede
fina de fios dourados cobrindo os seios.
Os preços eram populares e correspondiam,
nos bordéis ordinários ao preço equivalente a duas taças de vinho barato
enquanto que, nos que se destinavam à elite romana, o preço poderia
quadruplicar.
Uma das contribuições mais recentes para
o entendimento desta memória foi a exposição que teve lugar no Museu Nacional
de Arqueologia de Nápoles de um conjunto de 250 de pinturas e estátuas eróticas
recolhidas dos escombros da cidade de Pompeia e de outras três vizinhas que
igualmente foram soterradas pelas cinzas do Vesúvio.
São peças de deuses, sátiros e ninfas
protagonizando cenas de sexo e um conjunto de frescos que formam uma espécie de
Kama Sutra romano.
Esta colecção, por influência da Igreja
Católica, esteve sempre guardado numa “sala secreta” cujo acesso só era
permitido aos estudiosos.
Diante de tudo isto que era desenterrado
em Pompeia alguns estudiosos chegaram a classificar a cidade como um antro de
luxúria e de devassidão, uma espécie de Las Vegas do Império Romano. Esta ideia
era reforçada pelas inscrições feitas nos muros da cidade com frases que
poderia estar nas portas das casas de banho de uma cidade moderna.
Mas esta conclusão é demasiado simplista
e não corresponde à verdade, de acordo com a opinião de reputados antropólogos.
Os romanos não faziam sexo com mais frequência do que as pessoas de hoje,
simplesmente atribuíam ao acto um carácter religioso e representavam-no na sua
arte.
Para os romanos, a reprodução era um
momento mágico, sagrado e os falos eram a imagem mais divulgada que se pode ver,
nas paredes, à entrada das casas, no chão das ruas para indicar a direcção do
bordel mais próximo, nos amuletos que se usavam ao pescoço para proteger, no
meio das plantações para assegurar a fertilidade dos campos, nas candeias,
penduradas à beira das camas, para assegurar ao casal bons fluidos adequados a
uma noite de amor.
As romanas, na época do Império, gozavam
de muito maior prestígio do que as mulheres contemporâneas de outras
civilizações.
Enquanto que na Grécia, por exemplo, o
sexo feminino vivia segregado as romanas podiam participar em banquetes, ter
propriedades e gerir pequenos comércios e se não tinham direito a voto podiam
participar nas campanhas e apoiar os seus candidatos.
Pompeia desfrutava de uma economia
próspera com base no seu principal produto que era o vinho mas também a lã e objectos
de bronze que trocavam por couro, âmbar e escravos.
Metade da sua população era constituída
por crianças e a esperança de vida andava por volta dos 40 anos.
E o que faziam os habitantes de Pompeia
num dia normal das suas vidas?
Além das termas e banhos públicos
lotavam as tabernas cujos balcões se prolongavam ao longo da rua e nos quais os
clientes apressados poderiam beber um copo de vinho acompanhado de uma salsicha
ou de um doce quente.
A maioria dos moradores frequentava as 3
arenas da cidade a maior das quais tinha capacidade para 20.000 espectadores e
onde ocorriam lutas de gladiadores o mais famoso dos quais, Spartacus, esteve
aqui em instalações que nos foi possível visitar.
Mas todos eles gozavam de popularidade
tal como hoje os desportistas tendo mesmo direito a adeptos organizados e em 59
D.C., durante uma luta entre dois gladiadores, gerou-se uma zaragata tão grande
entre as claques opostas que o estádio esteve interdito durante 10 anos.
Dois quintos da cidade de Pompeia está
agora a ser descoberta das cinzas mas com cuidados rigorosos que não foram
tidos nos trabalhos anteriores havendo a preocupação de não retirar nada dos
locais onde as coisas são encontradas para que a noção do conjunto daquela
realidade histórica permaneça o mais possível intocável.
A explosão do Vesúvio constituiu um
fenómeno de proporções difíceis de imaginar.
A nuvem resultante dessa explosão foi
vista em Londres e o espectáculo foi observado de Roma a 200 km de distância. Pedras
com 8 toneladas foram arremessadas a kms e uma montanha com mais de 3100 metros de altura
de encostas recobertas de árvores que à curta distancia que se encontrava de
Pompeia constituía uma vista de grande beleza que hoje só podemos imaginar,
ficou reduzida a um monte escuro, sem graça, com pouco mais de 1.000 metros .
A maioria das pessoas morreu sufocada
pelo ácido clorídrico e outras agonizaram a um calor de quase 500 graus. De
seguida, todas foram recobertas pelas cinzas molhadas que com o tempo secaram
ajustando-se perfeitamente aos corpos de forma a registar as expressões faciais
nos momentos derradeiros.
Depois dos processos de decomposição
ficaram moldes ocos que preenchidos com gesso líquido trouxeram de novo para a
actualidade as mais famosas imagens da cidade.
O historiador Plínio “O Jovem” que
assistiu à distância e pôde sobreviver para contar escreveu:
“Era possível ouvir o lamento das
mulheres, o choro das crianças, o grito dos homens. Alguns estavam tão
aterrorizados que rezavam pela morte. Outros levantavam as mãos para os deuses
e muitos desacreditaram da existência deles naquela noite interminável”.
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