terça-feira, agosto 06, 2013

«Lanterna dos Afogados»
JUBIABÁ

Episódio Nº 77


Mas não via nada porque voltou a claridade perturbadora da lua e os sons morriam nas ladeiras, nos becos sem iluminação, nas ruas calçadas de pedra.

Com os últimos sons de batuque e o brilho atordoante do luar ele se achou diante do rosto sardento de Lindinalva.

Estava linda e sorria. Fazia desaparecer o batuque e o ódio.

António Balduíno passou a mão pelo rosto para afastar a visão que o acordava e olhou fixo para o outro lado. Enxergou novamente as luzes dos saveiros e Mestre Manuel que andava pelo cais.

Mas no meio das luzes estava Lindinalva bailando. Tudo porque ele perdera a luta e estava desmoralizado.

Fechou os olhos e quando os abriu só conseguiu ver a luz da triste, da pequena lâmpada da “Lanterna dos Afogados”.


UMA TOADA TRISTE QUE VEM DO MAR

A luz da “Lanterna dos Afogados” brilha como um convite. António Balduíno deixa o cais, levanta-se da areia que o acaricia e se dirige em grandes passadas para o botequim.

A lâmpada de poucas velas mal ilumina a tabuleta que traz o desenho de uma mulher bonita com corpo de peixe e seios duros. Por cima uma estrela pintada com tinta vermelha, derrama sobre o corpo virgem da seria uma luz clara que a torna misteriosa e difusa.

Ela retira da água um suicida. E por baixo o nome:

«LANTERNA DOS AFOGADOS»

De dentro vem um grito:

 - É você, Baldo?

 - Sou eu mesmo, Joaquim!

Lá estão numa das mesas sebentas o Gordo e o Joaquim. Joaquim grita da mesa, as mãos postas em cima dos olhos para ver melhor à luz vacilante do poste:

 - Entra, Jubiabá está aqui

Na sala pequena, quase envolta na escuridão, cinco ou seis mesas onde canoeiros, mestres de saveiros, e marinheiros bebem. Copos grossos cheios de cachaça. Um cego toca um violão mas ninguém o ouve.

Numa mesa, marinheiros alvos e louros, alemães de um cargueiro que carrega no porto, bebem cerveja e cantam embriagados. Duas ou três mulheres que nesta noite desceram da Ladeira do Taboão para a «Lanterna dos Afogados» estão com eles.

Riem muito mas têm um ar espantado pois não entendem a canção. Os marinheiros estão abraçados e beijam as mulheres. Em baixo da mesa inúmeras garrafas de cerveja vazias.

António Balduíno passa por junto deles e cospe. Um marinheiro levanta um copo. António Balduíno se prepara para brigar. Num canto, o cego geme no violão e ninguém o escuta.

António Balduíno se lembra que Jubiabá está no botequim, baixa o braço e vai se sentar junto do Gordo e de Joaquim.

 - Cadê Jubiabá?


 - Está lá dentro com seu António rezando à mulher dele. Seu António é um português velho, amigado com uma mulata com cara furada de bexiga. Um garoto pálido serve as mesas, correndo.

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