quarta-feira, agosto 07, 2013

O Por Quê das Religiões
(continuação)





Trata-se de uma força extremamente potente que há no cérebro e não admira que alguns vírus tenham evoluído no sentido de a explorar. («Vírus», neste contexto é uma metáfora para religiões: o meu artigo intitulava-se «Vírus da mente».

O biólogo Lewis Wolpert adianta, em Six Impssible Things Before Breakfast, uma sugestão que pode ser vista como generalização da ideia de irracionalidade construtiva.

Wolpert sustenta que, para um espírito inconstante, uma convicção irracionalmente poderosa funciona como protecção:

 - “Se as crenças capazes de salvar vidas não fossem fortes, isso teria sido desvantajoso nos primórdios da evolução humana. Teria sido uma séria desvantagem, por exemplo, ao caçar ou fabricar ferramentas, estar sempre a mudar de ideias.”

A implicação do argumento de Wolpert é que, pelo menos, em determinadas circunstâncias, é melhor insistir numa crença irracional do que hesitar, mesmo que nova evidência ou o raciocínio aconselhem uma mudança.

A Teoria da Auto – Ilusão desenvolvida proposta em 1976 no livro Social Evolution afirma que a auto-ilusão é esconder a verdade do plano consciente, a fim de melhor a ocultar dos outros.

Reconhecemos que entre os da nossa espécie os olhos esquivos, as mãos transpiradas e a voz rouca podem ser sinal de tensão própria de quem, conscientemente, está a tentar enganar alguém.

Ao tornar-se inconsciente da sua mentira aquele que engana esconde do observador estes sinais. Ele ou ela podem mentir sem o nervosismo que costuma acompanhar o engano.

O antropólogo Lionel Tiger diz algo parecido que funciona também como um tipo de defesa:

 - “Os humanos têm uma tendência consciente para verem aquilo que querem ver e, literalmente, dificuldade em ver coisas que têm conotações negativas ao passo que vêm com muita facilidade as positivas”

Isto é pertinente para a religião, nomeadamente no que tem a ver com tomar os desejos por realidade.

A teoria geral da religião como subproduto acidental – um tiro falhado de algo útil – é aquela que me proponho defender.

A título de exemplo continuarei a fazer uso da minha teoria da «criança crédula» que tomo como representativa das teorias do «subproduto» em geral.

Esta teoria – segundo a qual o cérebro da criança é, por bons motivos, passível de ser infectada por «vírus» mentais – pode parecer incompleta aos olhos de alguns leitores. A mente pode ser vulnerável, mas por que razão há-de ser infectada por este vírus e não por aquele? Serão alguns vírus especialmente proficientes em infectar mentes vulneráveis? Por que se manifesta a infecção sob a forma de religião e não sob a forma de outra coisa?

Parte do que quero dizer é que não importa que tipo concreto de disparate vai infectar o cérebro da criança. Uma vez infectada, ela vai crescer e infectar a geração seguinte com o mesmo disparate seja ele qual for.
(continua)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus

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