(continuação)
Trata-se de uma força
extremamente potente que há no cérebro e não admira que alguns vírus tenham
evoluído no sentido de a explorar. («Vírus», neste contexto é uma metáfora para
religiões: o meu artigo intitulava-se «Vírus da mente».
O biólogo Lewis Wolpert
adianta, em Six Impssible
Things Before Breakfast, uma sugestão que pode ser vista como
generalização da ideia de irracionalidade construtiva.
Wolpert sustenta que, para
um espírito inconstante, uma convicção irracionalmente poderosa funciona como
protecção:
- “Se as crenças capazes de salvar vidas não
fossem fortes, isso teria sido desvantajoso nos primórdios da evolução humana. Teria
sido uma séria desvantagem, por exemplo, ao caçar ou fabricar ferramentas,
estar sempre a mudar de ideias.”
A implicação do argumento de
Wolpert é que, pelo menos, em determinadas circunstâncias, é melhor insistir
numa crença irracional do que hesitar, mesmo que nova evidência ou o raciocínio
aconselhem uma mudança.
A Teoria da Auto – Ilusão desenvolvida
proposta em 1976 no livro Social Evolution afirma que a auto-ilusão é esconder
a verdade do plano consciente, a fim de melhor a ocultar dos outros.
Reconhecemos que entre os da
nossa espécie os olhos esqui vos, as
mãos transpiradas e a voz rouca podem ser sinal de tensão própria de quem,
conscientemente, está a tentar enganar alguém.
Ao tornar-se inconsciente da
sua mentira aquele que engana esconde do observador estes sinais. Ele ou ela
podem mentir sem o nervosismo que costuma acompanhar o engano.
O antropólogo Lionel Tiger
diz algo parecido que funciona também como um tipo de defesa:
- “Os humanos têm uma tendência consciente
para verem aqui lo que querem ver e,
literalmente, dificuldade em ver coisas que têm conotações negativas ao passo
que vêm com muita facilidade as positivas”
Isto é pertinente para a
religião, nomeadamente no que tem a ver com tomar os desejos por realidade.
A teoria geral da religião
como subproduto acidental – um tiro falhado de algo útil – é aquela que me
proponho defender.
A título de exemplo
continuarei a fazer uso da minha teoria da «criança crédula» que tomo como
representativa das teorias do «subproduto» em geral.
Esta teoria – segundo a qual
o cérebro da criança é, por bons motivos, passível de ser infectada por «vírus»
mentais – pode parecer incompleta aos olhos de alguns leitores. A mente pode
ser vulnerável, mas por que razão há-de ser infectada por este vírus e não por
aquele? Serão alguns vírus especialmente proficientes em infectar mentes vulneráveis?
Por que se manifesta a infecção sob a forma de religião e não sob a forma de
outra coisa?
Parte do que quero dizer é
que não importa que tipo concreto de disparate vai infectar o cérebro da
criança. Uma vez infectada, ela vai crescer e infectar a geração seguinte com o
mesmo disparate seja ele qual for.
(continua)
Richard Dawkins – “A Desilusão
de Deus
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