quarta-feira, setembro 11, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 108

Não, não fará fogo que isso chamaria a atenção dos homens que estão na estrada a tocaiá-lo. Lembra-se então de ver se ficaram muitos. Toca a mão no rosto que cada vez dói mais. Está feio aquilo. Com certeza era espinho venenoso.

Pai Jubiabá sabe remédios milagrosos para feridas assim. São folhas, folhas do mato. Ali deve ter destas folhas. Ele olha o chão. Mas quais servirão. Só pai Jubiabá sabe, que ele sabe tudo… Chega perto do mato que o separa da picada. Espia. Lá estão os homens.

Estão todos, nenhum foi trabalhar… O patrão está mesmo disposto a liquidar o negro António Balduíno. Deu folga aos trabalhadores. Eles comem carne seca e conversam.

António Balduíno volta devagar. Botou a navalha no cinto novamente. Vai pensativo mas de repente ri:

 - Comigo não levam vantagem…

O pior é não ter o que comer. E de noite ficar sozinho. Ele nunca teve medo de ficar sozinho. Mas hoje ele não quer. Fica pensando besteiras, vendo os mortos conhecidos, vendo pai Jubiabá, os lugares por onde andou e vendo Lindinalva.

Se ele não visse Lindinalva não tinha nada. Fica também pensando em Arminda que deve estar amigada com o negro Filomeno. Mas o negro não tem culpa. Se ele não ficar com Arminda outro qualquer ficará.

Não há mulheres nas plantações de fumo. Por isso é que Ricardo agitava tanto o girau durante as noites. Como se arranjará ele agora que não tem mãos. Vive em Cachoeira pedindo esmolas.

Terá mulher? Quem sabe se não terá uma que trate dele… Ele bem que merecia, era um mulato bom, camarada para tudo… Se estivesse na fazendo estaria cercando António Balduíno?

Tem uma névoa em frente aos seus olhos. Isso é fome, ele já ouviu dizer. E sai desesperado em busca de comida…

Quando a noite chegou ele fumava o último cigarro e quase não via na frente dos olhos. O rosto inchado doía de enlouquecer.

Anda para o lado das poças d’água cambaleando como um bêbado. Está com o almoço da véspera, pois nem havia jantado na hora da briga. Vai cambaleando e vão com ele muitos conhecidos.

Onde foi que ele já viu aquele homem magro que está gritando:

 - Quedê Baldo, o derrubador de brancos?

Está gritando e está rindo. Onde foi que ele o viu? Agora se recorda. Foi naquela luta de boxe contra um alemão que ele batera. Sorri. Já uma vez aquele homem dissera isso e no entanto ele vencera o branco, o deixara estendido no tablado.

Poderá atravessar o cerco também e alcançar a liberdade. Mas porque é que o Gordo está rezando oração de defunto? Ele não morreu ainda… Por que então todos respondem :

                                 «Orai por ele…»

Por que respondem? Não vêem que aquilo faz mal ao negro António Balduíno que está com fome e traz no rosto um talho feio onde os mosquitos pousam? Continuam. António Balduíno deitou junto de uma poça d’água. Bebeu. Depois ficou olhando o cortejo que o acompanha. Estende as mãos. Está pedindo que eles se afastem, que o deixem morrer em paz:

 - Vão embora! Vão embora!

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