O difícil, aliciante
e irresistível exercício da futurologia constitui uma actividade mental
perigosa porque as previsões podem traduzir, mesmo inconscientemente, os nossos
desejos, corresponder aos nossos interesses materiais ou ideológicos,
condicionando e enviesando o comportamento dos outros na tentativa de “driblar”
o futuro.
Mesmo enganando-se nas previsões de
fim do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus, terá sido o
homem, que podendo ter passado ignorado como tantos outros messias do seu tempo foi, no entanto, o que mais influenciou os destinos de toda a humanidade. Pela qualidade da sua mensagem reforçada pela coerência da sua vida e por outros factores e contributos aos quais foi alheio. Falhou como futurologista, acertou em cheio no impacto da sua mensagem.
Depois de Jesus Cristo, muitos outros têm previsto o fim do mundo (a mais apocalíptica das previsões) e, se continuarmos nesta senda corremos o risco de, com previsão ou sem ela, ele acabar mesmo, pelo menos tal como hoje o conhecemos.
Na realidade, todos os dias ele
acaba: para os que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens
que se alteram... mas isso já não é futurologia.
Menos perigoso, quase ingénuo ou
inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões
sobre aqui lo que teria sido o
futuro, entretanto já acontecido se à partida a
realidade tivesse sido outra.
- Como teria sido a vida dos
portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos Cravos,
em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem morrido
num acidente de avioneta na noite de 4 de Dezembro de 1980?
- Como teria sido a minha própria vida
se tivesse conhecido trinta anos mais cedo a mulher que só agora se cruzou
comigo?
Perguntas boas
porque não correm o risco de alguma vez serem respondidas...
Para além do prazer ou desprazer de
estar vivo, esta especulação sobre a nossa vida, pode constituir um ponto de
interesse da própria vida: exercita a imaginação, vai ao encontro dos nossos
desejos, mexe com os nossos instintos de felicidade.
Há sempre razão, mesmo quando já não
há razão nenhuma, para estarmos vivos: - “metermos-nos” com a
nossa própria vida.
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