segunda-feira, novembro 25, 2013

António Balduíno sai cantando coisas de Lampião...
JUBIABÁ

Episódio Nº 171




Saiu correndo com o fardo. António Balduíno levantava pedaços de trilhos:

 - Todo o mês vai dinheiro para o sindicato. O sindicato tem de aguentar.

O apito do capataz mandava a turma abandonar o trabalho. A turma do dia estava à espera e substituía imediatamente a que saía. Os materais para a estrada de ferro continuam a andar para o armazém das docas.

Os guindastes rangiam.

Saem em grupos e na porta António Balduíno se recorda de um homem que foi preso ali quando fazia um discurso. Ele era moleque de rua mas se lembrava perfeitamente.

Gritara, e com ele o grupo todo, protestando contra a prisão do homem. Gritava porque amava gritar, vaiar a polícia, jogar pedra em soldado.

Hoje ele precisa de gritar novamente, como no tempo em que corria solto pela rua e não via os guindastes inimigos prontos a lhe rebentar a cabeça.


António Balduíno vem sozinho pela rua. Tomou um copo de mingau de puba no Terreiro. Junto da negra homens conversavam sobre a greve.

António Balduíno sai cantando coisas de Lampião:

«Minha mãe me dê dinheiro
Pra comprar um cinturão
Para fazer uma cartucheira
Pra brigar pra Lampião»

Um conhecido grita.

 - Alô Baldo!

O negro faz um gesto com a mão e continua a cantar.

«A muié de Lampião
Quase morre de uma dor
Porque não fez um vestido
Da fumaça do vapor»

Agora canta em surdina, entre dentes:

«É Lamp, é Lamp, é Lamp,
É Lamp, é Lamp, é Lamp, Lampião.»

Com a greve que paralisou os bondes a cidade ficou festiva. Tem um movimento desconhecido hoje. Passam grupos de homens que conversam animadamente.

Rapazes empregados no comércio caminham rindo, gozando a cara do patrão que não poderá reclamar do atraso da chegada.

Uma mocinha atravessa a rua apressadamente com medo de alguma coisa. A cidade está cheia de condutores de bonde, de operários da oficina da companhia. Discutem com calor.

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