segunda-feira, novembro 04, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 154


António Balduíno não gosta de pensar nestas coisas. Ele gosta é de rir, de tocar violão, de ouvir as histórias bonitas do Gordo, as histórias heróicas do Zé Camarão. Mas hoje ele está aborrecido porque vai perder a festa de João Francisco. Tem que ir com Rosenda ao baile n “Liberdade na Baía”.

Antes passará na casa de Clarimundo que é no meio do caminho. Irá ver o morto que foi seu amigo. O melhor era não ir a festa nenhuma, era ficar fazendo sentinela ao morto.

Ia falar com o pai Jubiabá para que o feiticeiro fosse encomendar o cadáver. É bem capaz de Jubiabá estar em sua casa, conversando com o Gordo. A casa do Gordo fica perto do morro do Capa Negro e de vez enquanto Jubiabá desce para conversar.

Jubiabá não envelhece. Quantos anos ele terá? Já deve ter passado dos cem. Também sabe tanta coisa. Jubiabá aumenta a angústia que de quando em vez toma António Balduíno. Jubiabá diz umas coisas que ficam dentro do negro e o fazem pensar no mar onde Viriato se jogou, onde o velho Salustiano esqueceu a fome dos filhos.

António Balduíno pensa que não é o mesmo, que não é tão alegre como antigamente. Agora pensa coisas tristes. E ali mesmo, na rua, o negro ri alegremente, alto.

Transeuntes se voltam espantados. O negro continua a rir. Mas compreende que está rindo mais para irritar os outros do que por alegria. Continua a andar com o passo mole apressado. Parece até que está correndo. Porém quando chegou a casa já ficou calmo, e pensa na roupa branca que vai botar no baile da noite,

 - Meu colar, benzinho.

António Balduíno olha para a mulata com cara desconsolada. Só agora se lembrou do colar de Rosenda. Também dez mil réis ficaram com Vicente para a mulher do Clarimundo.

A prata de dois mil reis está no bolso. Rosenda faz um ar desconfiado:

 - Você não trouxe meu colar?

 - Você sabe quem morreu?

Mas não adianta porque Rosenda não conhece Clarimundo.

 - Eu tanto queria e você não trouxe… Só de ruindade…

Depois diz que gosta de mim. Mas deixe estar.

É véspera de São João e todo o mundo está alegre na rua. António Balduíno gostaria também de estar alegre. Os homens passavam por ele com as fisionomias risonhas e as casas de fogos estavam cheias de fregueses.

Todos se preparavam para uma noite feliz. Soltariam traques e estrelinhas. Os negros só conversavam sobre a festa de João Francisco e sobre o baile do “Liberdade na Baía”.

No entanto António Balduíno não pode ficar alegre esta noite. Clarimundo morreu e ele só pensa no estivador. Rosenda está implicando fazendo-se de besta. Não responde às perguntas do negro e começa a chorar.


Vai até à porta. Na casa de Osvaldo levantam uma fogueira. Vai ser enorme. No sobrado defronte, moças procuram o retrato do noivo numa bacia cheia de água.

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