terça-feira, novembro 05, 2013

O negro pega no chapéu e vai para casa de Jubiabá
JUBIABÁ

Episódio Nº 155


Todos estão alegres hoje. Só ele está triste, está aborrecido. Também a viúva de Clarimundo deve estar chorando. Mas ela tem um motivo. Perdeu o marido.

Mas ele não tem motivo algum a não ser o aborrecimento de Rosenda. Assim mesmo isto era besteira. Podia dar um pontapé nela e ir à festa de João Francisco. Ela anda muito chata. António Balduíno sai da porta.

Rosenda chora no quarto e diz que não vai mais. O negro pega no chapéu e vai para casa de Jubiabá, avisar o pai de santo da morte de Clarimundo.


Quando voltou, depois de ter conversado com Jubiabá e o Gordo (o Gordo partiu logo para o velório), encontrou Rosenda de cara amarrada mas se preparando para o baile.

 - Sabe, Rosenda, a gente tem que passar um minuto na casa de Clarimundo.

 - Quem é Clarimundo? – perguntou ela amuada.

 - Um estivador que morreu hoje. Foi pró enterro que eu dei o dinheiro do colar.

 - E o que é que a gente vai fazer lá?

 - Ver a mulher dele, coitada.

 - Assim de vestido de festa?

 - O que é que tem?

Porém Rosenda está furiosa com o negócio do colar e fica resmungando que não fica bem ir a casa de um morto de vestido de baile.

Enquanto isso vai-se aprontando. António Balduíno toma o café. As palavras de Rosenda vêm do quarto:

 - Visitar defunto… Quem já viu’

Ela bem merecia uma surra… Mulata vaidosa! Queria ir de colar para a festa, o pescoço enfeitado de contas azuis. Um colar de doze mil reis… Dez tinham ido para a viúva de Clarimundo. Os outros dois estavam no bolso. Davam para uma cerveja.

Um colar no pescoço de Rosenda ficava bonito. Mas vermelho ficava mais bonito que azul. Aquela negra sabia ser mulher. Em cima de uma cama não havia melhor. Mas fora dali era besta, cheia de chiques, de dengues.

Uma negra dengosa. Gostava que lhe catassem cafuné. E vivia falando em entrar para o teatro sem querer se empregar como copeira. Que não nascera para aquilo, era o que dizia.

O café esfriou. E além disso estava ralo. Café só bem forte para prestar. Nem café Rosenda faz direito. A mulher de Clarimundo é que fazia um café gostoso. Se ela não arranjar um homem é capaz de passar fome.

Os tempos estão ruins e lavar roupa não sustenta casa de ninguém. Demais ela não aguenta. É tão magra… A voz de Rosenda vem do quarto irritada.

 - Você quer ir ou não?

 - Porquê?


Nunca mais vem mudar roupa Que hora quer chegar? Ainda vai passar em casa de defunto. Que despropósito, meu Deus. Visitas de vestido de baile. Nunca vi em minha vida se dizer…

Site Meter