O negro pega no chapéu e vai para casa de Jubiabá |
JUBIABÁ
Episódio Nº 155
Todos estão alegres hoje. Só ele está
triste, está aborrecido. Também a viúva de Clarimundo deve estar chorando. Mas
ela tem um motivo. Perdeu o marido.
Mas ele não tem motivo algum a não ser o
aborrecimento de Rosenda. Assim mesmo isto era besteira. Podia dar um pontapé
nela e ir à festa de João Francisco. Ela anda muito chata. António Balduíno sai
da porta.
Rosenda chora no quarto e diz que não
vai mais. O negro pega no chapéu e vai para casa de Jubiabá, avisar o pai de
santo da morte de Clarimundo.
Quando voltou, depois de ter conversado
com Jubiabá e o Gordo (o Gordo partiu logo para o velório), encontrou Rosenda
de cara amarrada mas se preparando para o baile.
-
Sabe, Rosenda, a gente tem que passar um minuto na casa de Clarimundo.
-
Quem é Clarimundo? – perguntou ela amuada.
-
Um estivador que morreu hoje. Foi pró enterro que eu dei o dinheiro do colar.
-
E o que é que a gente vai fazer lá?
-
Ver a mulher dele, coitada.
-
Assim de vestido de festa?
-
O que é que tem?
Porém Rosenda está furiosa com o negócio
do colar e fica resmungando que não fica bem ir a casa de um morto de vestido
de baile.
Enquanto isso vai-se aprontando. António
Balduíno toma o café. As palavras de Rosenda vêm do quarto:
-
Visitar defunto… Quem já viu’
Ela bem merecia uma surra… Mulata
vaidosa! Queria ir de colar para a festa, o pescoço enfeitado de contas azuis.
Um colar de doze mil reis… Dez tinham ido para a viúva de Clarimundo. Os outros
dois estavam no bolso. Davam para uma cerveja.
Um colar no pescoço de Rosenda ficava
bonito. Mas vermelho ficava mais bonito que azul. Aquela negra sabia ser mulher.
Em cima de uma cama não havia melhor. Mas fora dali era besta, cheia de
chiques, de dengues.
Uma negra dengosa. Gostava que lhe catassem
cafuné. E vivia falando em entrar para o teatro sem querer se empregar como
copeira. Que não nascera para aqui lo,
era o que dizia.
O café esfriou. E além disso estava
ralo. Café só bem forte para prestar. Nem café Rosenda faz direito. A mulher de
Clarimundo é que fazia um café gostoso. Se ela não arranjar um homem é capaz de
passar fome.
Os tempos estão ruins e lavar roupa não
sustenta casa de ninguém. Demais ela não aguenta. É tão magra… A voz de Rosenda
vem do quarto irritada.
-
Você quer ir ou não?
- Porquê?
Nunca mais vem mudar roupa Que hora quer
chegar? Ainda vai passar em casa de defunto. Que despropósito, meu Deus.
Visitas de vestido de baile. Nunca vi em minha vida se dizer…
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