sexta-feira, dezembro 13, 2013

...a gente podia rebentar logo a cara destes amarelos
JUBIABÁ

Episódio Nº 188





 - Mas para quê tantos discursos quando a gente podia rebentar logo a cara destes amarelos?

- Eles não são amarelos… Eles não sabem de nada. Nós vamos explicar… - Severino sabe o que está dizendo.

António Balduíno cala. Aos poucos ele vai aprendendo que na greve não é um homem que manda. Na greve eles todos fazem um corpo só.

A greve é como um colar… mas não sente tristeza de não ser chefe da greve. Todos são chefes. Obedecem ao que está certo.

Aquela luta é diferente da que sustentou em toda a sua vida. Mas desta que resultou? Resultou ele escravo dos guindastes, olhando o mar como um caminho.

Na luta da greve, não. Eles iam perder um pouco da escravidão, ganhar mais alguma liberdade. Um dia fariam uma greve ainda maior e não seriam mais escravos.

Jubiabá também não sabe nada desta luta… Os homens que vão entregar os pães, não devem saber também.

Severino tem razão. Não adianta dar pancada. Adianta é convencer. E o negro segue o grupo para a “Padaria Galega” que fica na Baixa dos Sapateiros…

Os cesteiros vão saindo. Parecem figuras de carnaval com aqueles cestos na cabeça.

Severino começa a falar trepado num poste ao qual se agarra com uma das mãos. Explica aos homens que devem ser solidários com os seus irmãos que pedem aumento.

Que não devem servir aos interesses dos patrões. Que não devem entregar aquele pão, que não devem trair a classe a que pertencem.

 - Mas a gente não tem trabalho… diz um deles.

 - E por isso vai tomar o lugar dos outros? É justo que você vá tomar o lugar de um companheiro que está lutando pelo bem de todos? É uma traição…

Um cesteiro arreia o cesto do pão. Outros acompanham. A massa grita de entusiasmo. Mesmo os mais recalcitrantes, aquele que dera o aparte, um que tem família a sustentar, largam os cestos perante o entusiasmo da multidão.

Dois que querem sair para entregar os pães são impedidos pelos próprios companheiros. E entre os gritos de “viva a greve” vão todos para o sindicato dos padeiros.


Mas, pela tarde a coisa foi ficando feia para o lado dos padeiros. Foi o Gordo que tinha ido comer e se demorara muito quem trouxera a notícia.

O dono das “Panificações Reunidas” havia mandado buscar forneiros e amassadores em Feira de Sant’Ana. Tinha feito os homens virem de automóvel e no dia seguinte já haveria pão, pois agora mesmo de tarde os homens começariam a trabalhar.

Houve um começo de pânico entre os padeiros. Homens foram enviados ao sindicato dos operários da Circular e dos estivadores.

Se as “Reunidas” conseguissem botar pão na rua a greve dos padeiros podia dar-se como terminada. E os grevistas teriam perdido, o próprio emprego.

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