A gente rebenta a cara deles... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 187
Passa o resto da noite na
companhia do Gordo e de Joaqui m
pregando manifestos pela cidade, o manifesto que Severino redigiu e que explica
os motivos da continuação da greve.
Todos os postes têm
manifestos. Também nos muros do Ramos do Queiroz, da Baixa dos Sapateiros,
pregaram manifestos.
Um grupo chefiado pelo
negro Henrique foi para os lados do Rio Vermelho. Eles vão para a Estrada da
Liberdade, outros seguem para a Calçada, outros estão na cidade baixa.
A cidade se enche de manifestos
e todos sabem as razões por que os soldados continuam em greve. A companhia não é
geralmente simpatizada e os pequenos comerciantes vêm de marineti para os seus
negócios e olham os operários com simpatia.
A companhia fez espalhar o
boato de que, se a greve vencesse, os preços das passagens nos bondes, as
assinaturas da luz e telefone, subiriam.
Mas o golpe falha, apenas
traz maior animosidade contra a companhia. O tempo continua claro conservando o
bom humor da população. E este bom humor é aliado dos operários.
António Balduíno (quanta
coisa ele aprendeu naquele dia e naquela noite) explica a greve ao Gordo e a
Joaqui m. E se espanta de Jubiabá não
saber coisas da greve.
Jubiabá sabia coisas de santos, histórias de
escravidão, era livre mas nunca ensinara a greve ao povo escravo do morro.
António Balduíno não compreendia.
Dos lados da Ladeira do
Pelourinho vem um barulho, uma agitação. Homens passam correndo. Do sindicato
ouvem o ruído de um tiro. Alguém entra e diz:
- A polícia quer obrigar os padeiros a
entregar pão.
Sai um grupo do sindicato.
Mas o barulho já se desfez e no chão jazem cestos onde estavam pães
envelhecidos que os donos das padarias querem obrigar os cesteiros a entregar.
Um cesteiro que está com
um olho arroxeado de uma pancada explica:
- Veio até soldado de Cavalaria. Mas a gente
não entregou mesmo.
Um outro avisa que a
“Padaria Galega” vai mandar entregar o pão dormido. Conta que eles foram
contratar desempregados dando o duplo do salário. Demais garantiam o emprego
para o resto da vida.
Um forneiro velho grita:
- A gente não deve deixar.
Tem muita gente nas
janelas da Ladeira do Pelourinho. E do Sindicato dos operários da Circular
chegam a todo o momento novos grupos.
Vozes aplaudem o forneiro:
- Vamos mostrar a eles que não se deve furar a
greve…
António Balduíno convida:
- A gente rebenta a cara deles.
Nada disso, diz Severino.
Vamos lá e explicamos para eles. Que não devem servir de instrumento contra os
operários como eles. Não é preciso barulho…
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