quarta-feira, dezembro 11, 2013

Eu fico na greve até vencer...
JUBIABÁ

Episódio Nº 186




Um sujeito moreno pede para ser ouvido. Ele é contra a continuação da greve. Acha que se deve aceitar o aumento de cinquenta por cento. Já vai servindo.

Quem quer tudo de uma vez acaba perdendo tudo. O dr. Gustavo tinha razão. Qual é a força que o operário tem? Operário não tem força nenhuma. A polícia podia acabar com a greve na hora se quisesse…

 - Como? Como?

 - Ora se podia. Eles deviam se dar por felizes com o aumento.

Propõe que a assembleia aprove a terminação da greve e um voto de louvor ao doutor Gustavo.

 - Vozes gritam:

 - Vendido, vendido! Traidor, traidor!

Outros pedem que ouçam o orador. Vários operários, Mariano entre eles, estão quase concordando com o rapaz moreno. Cinquenta por cento já é alguma coisa. Depois podem perder tudo e é muito pior. Quando o rapaz desce, ganha alguns aplausos.

Mas António Balduíno grita mesmo do lugar onde está:

 - Gente, o olho da piedade de vocês já secou. Ficou somente o da ruindade? Vocês parece que nem se lembram da gente que apoiou vocês. Os estivadores, os trabalhadores da padaria.

Se vocês querem ser traídos, sejam. Cada um é dono da sua cabeça. Mas se vocês são tão burros que querem perder tudo para ganhar uma porcaria, eu garanto que rebento a cabeça daquele que passar aquela porta.

E eu fico na greve até vencer.

Severino sorri. Mas vários se impressionam com o discurso de Balduíno. O Gordo que nunca viu uma coisa assim está tremendo.

O negro que falou de tarde discursa novamente. Mostra que houve traição, que eles foram vendidos. Pedro Corumba fala também, cita exemplos das greves de São Paulo e do Rio quando confiaram em promessas de advogados que se diziam amigos do proletariado.

Mas a assistência está indecisa, os homens conversam entre si e os que aceitam a proposta conquistam adeptos.

O presidente vai pôr em votação. Aqueles que concordam com a continuação da greve que se levantem. Os que acham que devem aceitar a proposta da companhia, se conservem sentados.

Porém, antes que a votação seja feita, um jovem operário invade a sala e grita:

 - O companheiro Ademar foi preso quando saíu daqui de tarde. E a companhia está alugando gente para furar a greve.

Pára e toma fôlego:

 - E diz que a polícia vai obrigar os padeiros a entregar pão amanhã.

Então a assembleia se levanta toda e vota pela continuação da greve com os braços estendidos e os punhos fechados.


SEGUNDO DIA DA GREVE



Para que dormir nesta noite tão bonita? O negro António Balduíno não vai dormir.

Site Meter