(Rendimento
Básico
Básico
Incondicional)
Caminhamos
assim para um futuro que reduz ao mínimo a componente humana dos processos
produtivos. Sendo que a questão não é tanto saber se vamos ou não promover a
preguiça, mas o que vamos fazer numa sociedade sem trabalho.
Apesar do desalento e marasmo em que estamos, algumas ideias
interessantes vão fazendo o seu caminho. Já tem muitos anos, séculos mesmo, mas
só agora, graças à actual crise, se começa a falar seriamente do Rendimento
Básico Incondicional. Existe aliás uma iniciativa europeia nesse sentido.
O RBI é uma espécie de Rendimento Mínimo Garantido mas
incondicional, ou seja, sem necessidade de avaliação prévia e inerente
humilhação social. No essencial propõe que todo o cidadão, independentemente do
género, idade ou condição económica, tem direito a um rendimento fixo concedido
pela sociedade.
A ideia, ainda considerada utópica, não fosse aliás Thomas More um
dos primeiros a falar do assunto, tem sido avaliada ao longo dos tempos por
economistas, académicos, activistas e políticos. Sendo maioritariamente bem acolhida à esquerda, não é totalmente
rejeitada à direita, mesmo junto dos mais declarados defensores do capitalismo.
O presidente Nixon, por exemplo, chegou a encarar a sua implementação nos
Estados Unidos.
Os argumentos são conhecidos. Os que defendem fazem-no sobretudo
com base num princípio de dignidade humana. Os opositores consideram que é uma
forma de promover a preguiça. Há quem veja na medida um estímulo positivo à
economia, garantindo liqui dez e
consumo, ou quem preveja uma baixa generalizada do valor da remuneração do
trabalho.
A quem afirma que o Estado não tem dinheiro para tal fantasia,
responde-se com o crescente custo das prestações sociais, já hoje à beira da ruptura,
a que se soma a vasta burocracia que gere o sistema e que consome muitos
recursos, assim como incentivos, subsídios de toda a espécie, programas de
fomento de emprego, etc...
De qualquer modo o debate fica-se amiúde pela ideologia ou pela
moralidade.
Hoje estamos confrontados com uma nova realidade que tornará a
medida inevitável. Às sucessivas crises do capitalismo, cada vez mais
frequentes e nefastas, junta-se uma revolução tecnológica distinta de todas as
anteriores.
No passado, cada novo avanço tecnológico dizimava sectores
inteiros da actividade produtiva, mas gerava por sua vez novas actividades que
davam emprego, riqueza e desenvolvimento humano.
Pense-se na primeira revolução industrial. Mas hoje já não é
assim. Temos agora tecnologias que aumentam exponencialmente a produtividade,
mas não geram trabalho humano.
A crescente automação aliada à capacidade das máqui nas inteligentes para intervir directamente na
criação e nos processos produtivos exigem cada vez menos a intervenção humana,
o que sucede não só nas fábricas, mas praticamente em todos os sectores da actividade
e mesmo nos mais tradicionais.
A crescente automação aliada à capacidade das má
Veja-se o que acontece na agricultura, onde as máqui nas e a engenharia genética ganham terreno à mão-de-obra
intensiva dos já obsoletos camponeses. A agricultura dos nossos dias depende
dos laboratórios e não mais das enxadas.
Caminhamos assim para um futuro que reduz ao mínimo a componente
humana dos processos produtivos. Sendo que a questão não é tanto saber se vamos
ou não promover a preguiça, mas o que vamos fazer numa sociedade sem trabalho.
Uma solução intermédia será reduzir o horário sem reduzir a
remuneração. Só a estupidez do chamado neoliberalismo tem impedido este tipo de
iniciativa. Mas chegará o dia em que mesmo isso não basta. Quando a maioria da
população, considerada activa, estiver inactiva porque não encontra ocupação,
teremos vastas hordas de famintos com todas as consequências inerentes.
Teremos também uma economia
da miséria incapaz de se desenvolver por diminuição drástica do consumo e da actividade
económica. A quem se venderão os telemóveis?
Realidade que não deriva de um prognóstico excêntrico, mas da
realidade já demonstrada em países como Portugal que seguem a receita da
austeridade e do empobrecimento.
Por isso não olho para a ideia do RBI sob o ponto de vista da
ideologia nem sequer da moral. Trata-se de uma questão de sobrevivência da
própria sociedade e do modo como esta consegue responder aos novos desafios de
uma evolução que não para. É uma questão de prudência.
Precisamos de novos modelos antes que os velhos, de tão gastos,
nos lancem na catástrofe social.
Leonel Moura
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