quarta-feira, dezembro 18, 2013

Lá em casa tem arraia que chegue...
JUBIABÁ

Episódio Nº 192




Ela não era contra a greve, não. Achava que eles tinham razão, que o salário era muito pequeno e não dava. Eles estavam no seu direito de pedir mais, deixar de trabalhar até que os patrões aumentassem o salário.

Mas temia os dias que iam se seguir. Não havia mais comida em casa, nas dos vizinhos faltaria logo e aonde é que o sindicato arranjaria dinheiro para sustentar tanta gente?

Se a greve demorasse mais alguns dias a fome os derrubaria. Chega à janela. Na casa vizinha aparece Ercídia:

 - Seu Clóvis já chegou, Helena?

 - Ainda não, sinhá Ercídia…

É capaz de não vim…Henrique me disse que não esperasse… A greve está braba hoje e os homens precisam de estar na rua.

A negra sorria.

 - Acho que vou jantar sem ele…

Sorriu novamente. Mas porque Helena não sorri, não acha graça? Ela está chorando. Ercídia sai e entra na casa da vizinha:

 - O que é Helena?

O fogão está parado na cozinha. A negra alisa a cabeça da outra.

 - Não se importe, menina, deixe de besteira. Lá em casa tem arraia que chegue.

 E depois eles ganham a greve e a gente tem mais dinheiro. Helena sorri entre lágrimas.


Após acomodar as crianças, que ficaram dormindo, Helena bota um xaile nos ombros e toma o caminho da Graça, onde mora dona Helena Ruiz, esposa do patrão do seu marido.

Ela fora lavadeira de dona Helena, que era uma senhora sempre preocupada em fazer o bem aos pobres e que a chamava e que a chamava sem nenhuma besteira de «xará».

 - Veja lá minha xará. Quero esta roupa bem alva…

Apesar de riquíssima, Dona Helena continuava a tomar conta da sua casa. Dizia que quem não tem nenhuma ocupação se ocupa com pensamentos ruins. E se bem que tivesse muita festa a que ir, cinemas a assistir, passeios a dar, arranjava sempre tempo para zelar pela casa.

O marido rogava que entregasse aquilo às criadas, que não estragasse os seus vinte e dois anos risonhos, mas ela não dava ouvidos:

 - Se eu entregar isso a empregadas você nunca mais terá uma roupa que preste. E demais eu gosto…

O marido a beijava no rosto e depois iam ao cinema muito unidos. Ele lhe contava os negócios, falava orgulhoso da prosperidade das «Panificações Reunidas», ela sorria satisfeita do marido que Deus lhe dera.

Ele dizia:

 - Você é quem me dá coragem. Se não fosse você não sei o que seria de mim…

Fora por intermédio de Dª Helena que Clóvis arranjou emprego na padaria.

A lavadeira pedira à patroa, no outro dia Clóvis tivera o lugar.

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