Negro faz greve não é mais escravo... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 179
Vocês precisam de ver a greve, ir para a
greve. Negro faz greve não é mais escravo. Que adianta negro rezar, negro vir
cantar para Oxossi?
Os ricos manda fechar a festa de Oxossi.
Uma vez os polícias fecharam a festa de Oxalá quando ele era Oxolufã, o velho.
E pai Jubiabá foi com eles, foi para a cadeia. Vocês se lembram, sim.
O que é que negro pode fazer? Negro não
pode fazer nada. Negro faz greve, pára tudo, guindaste, pára bonde, cadê luz?
Só tem as estrelas. Negro é a luz, é os bondes.
Negro e branco pobre, tudo é escravo,
mas tem tudo na mão. É só não querer não é mais escravo. Meu povo vamos prá
greve que a greve é como um colar.
Tudo junto é mesmo bonito. Cai uma conta
as outras caem também. Gente vamos prá greve, vamos brigar para não ter mais
fome. Os outros já estão lá.
E António Balduíno sai sem ver os que o
acompanham. O Gordo vai com ele, Joaqui m
e Zé Camarão também. Jubiabá e diz estende as mãos e diz.
-
Exu pegou ele…
No sindicato ainda não têm nenhum resultado
da conferência no palácio. Severino repete para quem quer ouvir:
-
Tapeação. Não está vendo que aquele doutor é um amarelo?
Outros defendem. Ele é um advogado e
sabe muito. A estas horas ele se baterá pelo direito dos operários explorados.
Um fiscal de bonde faz um discurso elogiando o doutor Gustavo. Há apoiados e
vaias.
No salão do palácio se realiza a
conferência. Mas não chegam a uma conclusão. Gustavo pede em lindas tiradas
oratoriais que os operários sejam satisfeitos nas suas pretensões:
- Não peço, exijo…
Fala em humanidade, em homens que passam
fome, que trabalham dezoito horas por dia, que morrem tuberculoses. Lembra o
perigo da revolução social se este estado de coisas continuar.
Os homens que representam a companhia
(um americano moço e um senhor velho que é advogado da companhia e fora
parlamentar noutros tempos) não cedem no entanto.
O mais que podem fazer é ceder em
cinquenta por cento nas reivindicações dos operários. Assim mesmo por amor ao
povo, para que a cidade não fique privada dos bondes, da luz, do telefone.
Para os operários a solução será óptima,
declara. Mas dar tudo o que eles pedem, não. É melhor entregar de uma vez a
companhia a eles.
E os accionistas. Os operários só pensam
em si, não se recordam dos estrangeiros que confiaram na nossa gente e
empregaram seu dinheiro em empresas no Brasil.
Que não dirão eles? Dirão que foram
burlados pelos brasileiros e isto com certeza não é honroso para o nome do
país.
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