terça-feira, dezembro 03, 2013

Negro faz greve não é mais escravo...
JUBIABÁ

Episódio Nº 179





Vocês precisam de ver a greve, ir para a greve. Negro faz greve não é mais escravo. Que adianta negro rezar, negro vir cantar para Oxossi?

Os ricos manda fechar a festa de Oxossi. Uma vez os polícias fecharam a festa de Oxalá quando ele era Oxolufã, o velho. E pai Jubiabá foi com eles, foi para a cadeia. Vocês se lembram, sim.

O que é que negro pode fazer? Negro não pode fazer nada. Negro faz greve, pára tudo, guindaste, pára bonde, cadê luz? Só tem as estrelas. Negro é a luz, é os bondes.

Negro e branco pobre, tudo é escravo, mas tem tudo na mão. É só não querer não é mais escravo. Meu povo vamos prá greve que a greve é como um colar.

Tudo junto é mesmo bonito. Cai uma conta as outras caem também. Gente vamos prá greve, vamos brigar para não ter mais fome. Os outros já estão lá.

E António Balduíno sai sem ver os que o acompanham. O Gordo vai com ele, Joaquim e Zé Camarão também. Jubiabá e diz estende as mãos e diz.

 - Exu pegou ele…



No sindicato ainda não têm nenhum resultado da conferência no palácio. Severino repete para quem quer ouvir:

 - Tapeação. Não está vendo que aquele doutor é um amarelo?

Outros defendem. Ele é um advogado e sabe muito. A estas horas ele se baterá pelo direito dos operários explorados. Um fiscal de bonde faz um discurso elogiando o doutor Gustavo. Há apoiados e vaias.


No salão do palácio se realiza a conferência. Mas não chegam a uma conclusão. Gustavo pede em lindas tiradas oratoriais que os operários sejam satisfeitos nas suas pretensões:

- Não peço, exijo…

Fala em humanidade, em homens que passam fome, que trabalham dezoito horas por dia, que morrem tuberculoses. Lembra o perigo da revolução social se este estado de coisas continuar.

Os homens que representam a companhia (um americano moço e um senhor velho que é advogado da companhia e fora parlamentar noutros tempos) não cedem no entanto.

O mais que podem fazer é ceder em cinquenta por cento nas reivindicações dos operários. Assim mesmo por amor ao povo, para que a cidade não fique privada dos bondes, da luz, do telefone.

Para os operários a solução será óptima, declara. Mas dar tudo o que eles pedem, não. É melhor entregar de uma vez a companhia a eles.

E os accionistas. Os operários só pensam em si, não se recordam dos estrangeiros que confiaram na nossa gente e empregaram seu dinheiro em empresas no Brasil.


Que não dirão eles? Dirão que foram burlados pelos brasileiros e isto com certeza não é honroso para o nome do país. 

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