segunda-feira, janeiro 20, 2014

 A Grande

 Revolução



O Homem do 

Neolítico




As grandes revoluções são silenciosas, não acontecem de um dia para o outro, os seus efeitos são irreversíveis, progridem no espaço e no tempo e quanto mais ele passa mais eles se fazem sentir até que uma sociedade diferente vai surgindo com um novo homem com a sua incrível capacidade de se adaptar, transformar, arranjando novas soluções para resolver os mesmos problemas de sobrevivência.

E acontecem porque um elemento novo, um facto concreto que se revela de especial relevância se introduz no dia a dia da vida das pessoas, ou imposto pela força dos condicionalismos naturais ou adoptada por se mostrar de uma evidente vantagem competitiva, normalmente numa associação das duas coisas.

A técnica do domínio e controle do fogo pertence ao último caso. As suas vantagens eram de tal importância que a sua adopção não só revolucionou a vida dos homens como, ela própria, esteve na origem do próprio homem com outras capacidades e condições para se afirmar no processo competitivo que é o da vida desta espécie única.

No primeiro caso, depois de dezenas de milhar de anos do nosso antepassado, o Homem de Cro-Magnon, ter vivido da recolha de tudo aquilo que a natureza tinha para lhe oferecer para além do que caçava e pescava com técnicas cada vez mais aperfeiçoadas e eficazes, chegou a um momento em que as condições ambientais, coincidindo há cerca de dez mil anos, com o fim da era glacial, sofreram tais alterações que aquele estilo de vida teve que, progressivamente, dar lugar a um outro num processo longo e demorado e que teve como consequências o surgimento não só de uma nova sociedade mas também de uma nova humanidade.

Talvez não tenha sido uma transição desejada, talvez o homem do neolítico não fosse mais feliz que o anterior, o nosso “avô” Cro-Magnon, mas não sendo possível continuar por força dos condicionalismos naturais com o mesmo estilo de vida, manda o instinto de sobrevivência que se procurem outras soluções e foi isso que aconteceu e, pouco a pouco foi-se virando a página do livro da história da nossa vida e com que consequências…

Será que a magia praticada nas grutas que ele tão bem decorou produziu os seus efeitos?

Seja como for, no início dos tempos pós glaciários, ele descobre que pode agir sobre a natureza e até, de certo modo, apropriar-se dela conduzindo àquilo que o pré-historiador australiano Gordon Childe chamou em 1930, “Revolução Neolítica”.

Esta expressão é exagerada a menos que se olhe para ela com uma amplitude de vários milénios que começam há cerca de 14.000 anos, de uma forma tímida, e se desenvolve efectivamente no Neolítico entre 10 e 4.000 anos atrás.

Na realidade, o que tivemos foi um modo de vida de caçadores recolectores que se vai modificando pouco a pouco porque a vida de nómada atrás das grandes manadas de herbívoros já não se torna possível porque elas começaram a escassear em consequência da diminuição dos grandes espaços por onde circulavam.

E assim, preferem fixar-se durante mais tempo em regiões cujos recursos conhecem bem, optando pela caça de animais de pequeno porte abundantes nas redondezas das suas casas e começam a interessar-se pelo ciclo das estações, pela influência destas sobre o comportamento dos animais e pelo desenvolvimento das plantas selvagens que aprendem a conhecer melhor e a utilizar mais amplamente.

Aos acampamentos ligeiros sucedem-se agora verdadeiras pequenas aldeias feitas de cabanas robustas que permanecem ocupadas, ao princípio, parte do ano e depois todo o ano pelos membros da tribo que não são indispensáveis ao êxito das expedições de caça mais longínqua.

Este sedentarismo parcial, que tudo leva a crer é acompanhado de mudança nas relações sociais dos grupos humanos, modifica completamente a visão que o homem podia ter do seu meio ambiente e das suas relações com o meio natural.

De um predador nómada torna-se um”produtor” que se esforça por explorar de maneira mais intensiva um território limitado nas proximidades do local de residência.

Desenvolve novas técnicas, domestica animais, controla espécies vegetais, aperfeiçoa as aldeias e na sequência de tudo isto assiste-se a um crescimento demográfico.

Do avanço registado nas armas uma referência especial para o arco e flecha, fabricados com madeira, tendões e tripa, que se espalham um pouco por todo o mundo pelas vantagens que apresentavam por serem leves, de fácil transporte e mais eficazes do que as lanças e os dardos a uma distância de trinta metros e mais adequadas a um ambiente agora muito florestado.

Os arcos mais antigos foram encontrados na Europa, na Dinamarca, e estão datados de há 8.000 anos e pinturas talvez mais recentes, debaixo de uma rocha no Levante espanhol, mostram caçadores equipados com arcos e flechas e grupos de arqueiros que combatem uns com os outros.

A cerâmica é um dos grandes contributos do Neolítico embora desde há 25.000 que se tinha aprendido a cozer misturas argilosas e em algumas regiões utilizavam-se também recipientes de argila crua seca ao sol mas que eram muito frágeis e pouco práticos.

É natural que a técnica de entrançar ramos, juncos ou bambus tenha sido praticada largamente muitos anos antes, ainda no Paleolítico, mas a fragilidade do material não permitiu deixar vestígios.

Depois vieram os primeiros têxteis tecidos com fibras de linho e pela mesma altura, 8.000 anos atrás, generaliza-se no Médio Oriente o trabalho em cobre e na Suméria, há 5.500 anos, inventou-se a roda.

O primeiro animal que compartilhou a vida com o homem foi o cão cujos vestígios em acampamentos humanos foram encontrados em jazidas datadas de há 14.000 anos tendo evoluído do lobo, coiote e chacal e eram utilizados para a caça, para dar o alarme, para a guarda de rebanhos e como companheiros.

O gato, a cabra e a ovelha aparecem no Médio e Próximo Oriente há 10.000 anos. Os primeiros bovinos, os auroques, foram “controlados" por caçadores que praticavam uma espécie de proto criação de gado antes de serem verdadeiramente domesticados para se transformarem nos bois actuais, primeiro na Grécia, há 8.500 anos e depois no Próximo Oriente.

Outros bovídeos foram domesticados mais tardiamente na América, na África sariana e na Ásia e todos estes animais permitiram aos homens melhorarem consideravelmente beneficiando, de modo permanente, de leite fresco, queijo que pode ser conservado durante largo tempo, de sangue retirado do animal vivo e, claro, de carne.

Outra fonte de produção de carne foi o porco selvagem ou javali domesticado mais ou menos na mesma época, 8.500 anos, na Grécia e Próximo Oriente e alguns séculos mais tarde na Europa e China Setentrional.

Mas o interesse do homem do Neolítico estende-se por muitos outros animais que variam em função da região considerada.

O cavalo é domesticado na Ucrânia há 5.500 anos, no Peru faz-se a criação de alpacas e lamas que provêm de camelídeos selvagens dos altos planaltos andinos, de guanacos e vicunhas.

O burro, o camelo e o dromedário são domesticados entre 5.000 e 4.000 anos, respectivamente no Próximo Oriente, no Turquemenistão e na Arábia.

Mas a domesticação não se ficou apenas pelos grandes animais. As abelhas foram exploradas pelos habitantes do vale do Nilo há cerca de 5.000 anos e por essa mesma altura, o bicho-da-seda era criado na China o que revela a antiguidade das actividades de tecelagem na Ásia.

(continua)

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