Esta imagem diz tudo do que foi Eusébio como futebolista...

Morreu

o nosso 

Eusébio

Desapareceu do mundo dos vivos o “nosso” Eusébio. “Nosso”, porque apesar de ser sportinguista ele foi maior que o clube rival, o Benfica, maior do que qualquer outro clube que tivesse representado.

De resto, quero pensar, que tendo sido do Sporting de Lourenço Marques, em Moçambique, onde nasceu, antes de vir para o continente, ele só poderia ter sido “roubado” ao meu Sporting quando desembarcou aos 18 anos em Lisboa…

Contudo, essa circunstância deixou de ser importante com o Campeonato do Mundo de Futebol em Inglaterra, em 1966, quando ele provou que o seu clube era Portugal.

Vencidos na semi-final pela Inglaterra por 2-1 ele sai do campo a secar as lágrimas à camisola numa célebre fotografia que correu mundo, mas o momento mágico tinha sido no Portugal – Coreia do Norte, mas eu conto…

Em 1966, no Verão desse ano, eu estava de férias na Vila da Nazaré que por essa altura tinha sido “descoberta” pelos jovens franceses para o turismo europeu.

Na Praça central que dava para a entrada da praia, nessa altura repartida entre nazarenos, pescadores e os seus barcos, e na outra parte pelos que ali acorriam de férias a banhos entre os quais me incluía, existia uma esplanada onde estava montada uma televisão, então a preto e branco, para a transmissão dos jogos de Portugal que nesse dia jogava com a Coreia do Norte.

O resultado desfavorável ao intervalo de 3-0 ou 3-1 (não recordo bem) deixava as pessoas mudas, incrédulas, desanimadas… e logo com a Coreia do Norte.

Nos balneários, parece que o nosso seleccionador, Oto Glória,  lhes terá dito das boas…

Recomeça o jogo e Eusébio pega na bola, marca 4 golos e o jogo acaba com a vitória de Portugal por 5-3. Seria difícil que um jogo de futebol pudesse provocar estados de espírito tão profundamente contraditórios mas o que eu não esqueço, não foram as minhas lágrimas – comovo-me com facilidade – foram as de um senhor já de meia idade, pessoa circunspecta, com um “fácis” impávido e sereno com dois riozinhos a correr de cada olho…

Jamais poderei esquecer essa imagem. Pelas minhas lágrimas e especialmente pelas desse senhor, já falecido agora, com certeza, muito obrigado Eusébio… foste, de todos, o mais português, o mais campeão!  

A tua morte caiu-me na “fraqueza”. Sou mais velho que tu. Nasceste em 42 e eu em 39 e, francamente, hoje não se morre aos 71 anos. Por isso, ela, a tua morte, foi injusta e prematura e só a doença a explica. 

Mas em intensidade, não tenho dúvidas que viveste mais, muito mais do que eu alguma vez poderei viver...