sábado, janeiro 25, 2014

Mais de 35%

de eficiência…




Almada Negreiros dizia que “um povo completo tem todas as qualidades e todos os defeitos.

 - Coragem, portugueses, já só vos faltam as qualidades!”

Esta imagem corresponde bastante ao que pensamos de nós mesmos. Alimentamos, de resto, o gosto da auto-crítica, temos prazer em dizer mal do nosso país e dos seus habitantes. Não há nada que mais entusiasme um português que dizer mal do seu vizinho.

A auto-estima dos portugueses é baixa e isso afecta-os na confiança, dificulta-lhes o futuro. Na verdade, colectivamente, somos pró fracalhote por falta de uma tradição de bons exemplos da parte das classes nobres, mandantes e poderosas deste país, desde sempre.

Educa-se pela palavra mas sem exemplo adianta pouco… O trabalho como método de enriquecimento é fundamental em substituição da “esperteza saloia” tão caracteristicamente nacional.

As energias e as vitalidades têm que ser educadas ou, se quiserem, encaminhadas por quem tem responsabilidades na condução do país aos mais variados níveis, para servirem correctamente os interesses dos próprios e os da comunidade em reciprocidade. Casos isolados de coragem, confiança, espírito vencedor são, isso mesmo, sucessos individuais que tanto jeito tem dado ao país nestes últimos anos.

Mas senão cultivarmos valores de ética, cidadania e de respeito pelo colectivo, a tendência irá noutro sentido e tornar-se-á padrão na sociedade: o “chico espertismo”, a técnica do desenrascanço.

Não basta ficarmo-nos pelo que é legal. Os maiores crimes contra os interesses do país cometeram-se em aparentes legalidades e daí a dificuldade da justiça condenar os prevaricadores e, também por isso, os processos se arrastam e raramente resultam em condenações em conformidade com os delitos, muitas vezes multas ridículas.

A Justiça é a pedra basilar de uma sociedade porque prevaricadores sempre os houve e há-de haver em todas as sociedades e as pessoas sabem que é assim. A diferença de umas para outras está na eficiência e celeridade com que a justiça actua.

Os cidadãos aguardam esses sinais e se eles não aparecem sobra a descrença, o desalento e a sociedade, o colectivo, começa a pensar mal de si próprio.

O Estado português conseguiu no ano passado cobrar receitas mais de 35% superiores às do ano anterior, coisa nunca atingida em nenhum outro país, autêntico recorde, sendo que, cobrança de impostos é, efectivamente, uma das obrigações dos Estados, desde sempre.

Parece que pelo meio houve um perdão fiscal… mas recordes são recordes.

Suponham agora que o mesmo Estado, que foi 35% mais eficiente na cobrança de impostos, era também 35% mais eficiente na aplicação da justiça?

Eu, como português, ter-me-ia sentido muito orgulhoso por essa eficiência acrescida de 35%. Agora, na cobrança de impostos, mesmo que em parte tenha a ver com aqueles que deviam pagar e não pagavam, caloteiros que andavam fugidos, tresmalhados, mesmo assim só significa que o Estado enlouqueceu em ir-nos aos bolsos.

Eu e os meus colegas reformados e funcionário do Estado somos vítimas predilectas porque nem temos, sequer, oportunidade de os pagar. É tudo descontado no recibo de pagamento, umas vezes explicado, outras esquecido.

Mas não há surpresa. O ministro das Finanças, o que se foi embora escrevendo uma carta em que reconhecia ter falhado, ameaçou logo na entrada em funções, que íamos ser sujeitos a um enorme aumento de impostos.

Vejamos um caso concreto, o meu. Em 2000, quando me reformei, foi-me atribuída uma pensão anual de 36.786.73. Reparem que eu digo atribuída e não dada porque, se falamos em dar depois falamos em tirar e daí a roubar é um pequeno passo como se demonstra nas manifestações.

Pois bem, fazendo fé na importância do que me foi entregue neste 1ª mês de Janeiro e multiplicando por 12 meses,  verifico que mais de 45% já lá vai… mas, sabendo nós, que vamos descontar mais 1,5% para o sistema de Saúde começamos a aproximarmo-nos da metade para eles, metade para mim..

Chegados aqui, uma pergunta se pode fazer:

 - O meu país alguma vez produziu riqueza que lhe permitisse pagar no futuro a pensão que me foi atribuída no Ano 2000?

- Não terá sido tudo isto uma ficção, um desejo de voar alto, o alimentar de um sonho bom com muita má gestão, demagogia e alguma roubalheira à mistura?

Pessoalmente não me queixo. Seria injusto para com tantos concidadãos meus, da minha geração, que também trabalharam uma vida inteira para o Estado e sobrevivem com muito menos.

Para se queixar, de resto, temos o nosso Presidente da República que trocou o seu ordenado pela reforma de 10.000 euros, que lhe é superior, e em Janeiro de 2012 dizia no Porto numa entrevista:

 - “Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu não recebo salário como PR.”  

Com governos como estes, que nos trouxeram aonde estamos e Presidentes “solidários” como Cavaco, os portugueses, ordeiros, que não incendeiam carros nas ruas nem partem montras, podem gabar-se de ser um povo maduro, uma verdadeira pátria a merecer o respeito e a confiança dos credores.

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