quinta-feira, fevereiro 20, 2014

A Crença

Religiosa



Quando se vive "a vontade de Deus", acreditando que tudo o que acontece no mundo é da responsabilidade de "Deus", estamos vivendo de acordo com uma concepção histórica, chamada "Providencial".

A crença de que Deus é o verdadeiro protagonista e sujeito da história e que os seres humanos são apenas ferramentas em suas mãos.

Para o Providencialismo, Deus é justo e quando nos sucedem coisas más na vida são apenas "testes" de Deus para ver se somos fiéis, para ver até quanto aguentamos sem o renegar.

Para o Providencialismo, o tempo humano, a história não têm valor e as recompensas ou castigos só acontecerão fora do tempo, na eternidade. Para o Providencial, "os caminhos de Deus são imprescrutáveis" e o homem não pode entendê-los, nem questioná-los.

Muitos ditados populares e provérbios expressam a cultura Providencialista religiosa, tradicional: "O que é teu ninguém o pode tirar"; "Deus proverá", "Uma árvore que nasce torta nunca se endireitará” ...

Outros matizam com sentido idêntico esse fatalismo: "A quem madruga Deus ajuda”; ou o seu contrário: “Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo”.

Existem também ideias, nascidas das filosofias orientais que fazem eco nas palavras de Jesus "A cada dia basta-lhe o seu afã”."

Atribuída ao Dalai Lama há o seguinte ditado: "Há apenas dois dias no ano em que não podes fazer nada. Um deles se chama ontem e o outro amanhã. Então, hoje é o dia em que podes fazer alguma coisa, o único em que podes viver".

Um dos aspectos mais importantes da Teologia da Libertação foi o de começar a questionar o sentido providencial da religião popular, tornando as pessoas responsáveis por cada um dos dias da sua própria história, tornando-as "sujeito da sua libertação."

O Providencialista Santo Agostinho

Providencialismo é essencial no Cristianismo tradicional. Está na raiz da cultura religiosa latino-americana, que não viveu o impacto colectivamente libertador da Reforma Protestante e da Modernidade.

Considera-se que Agostinho, bispo de Hipona, é o primeiro grande providencialista da igreja. Em sua vida, Agostinho foi testemunha da queda do poderoso império romano nas mãos dos bárbaros e considerou que tamanho cataclismo histórico, só poderia ter ocorrido pela "vontade de Deus".

Seguindo essa interpretação providencial de tal evento histórico, Átila, o líder dos Hunos, que sitiou Roma e Constantinopla, foi chamado pelos cristãos daquela época "Flagelo de Deus", um título que reflecte o ideário providencial: mais do que um guerreiro capaz, Átila foi uma "prova" de Deus.

 A história é um processo linear guiado por Deus.

A concepção providencial enraizou-se durante séculos. Nos primeiros anos da conquista da América pelos espanhóis, muitos escritores católicos difundiram a ideia de que a "descoberta" do continente como um território para evangelizar havia sido uma acção providencial de Deus, uma decisão da vontade divina, para compensar a igreja dos prejuízos causados à cristandade europeia pela Reforma Protestante.
(continua)

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