sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A Providência

Divina

(continuação)



A concepção providencial apresenta sempre a história como um processo linear governado por Deus: de uma fonte para um destino pré-determinado de antemão pela Divina Providência, a partir de uma situação negativa, causada pelo pecado original, para a salvação final que só se alcança no “além”.

Para o providencialismo, nada do que acontece é da exclusiva responsabilidade da vontade humana sobre a qual prevalece a vontade de Deus, que desenha o destino dos homens, das nações e do mundo inteiro.

A doutrina da "predestinação", também desenvolvida por Agostinho e séculos mais tarde defendida por Lutero e Calvino, é uma expressão radical do providencialismo.

Naturalmente, estas ideias deitam por terra o sentido da liberdade humana.

O Terreno Fértil da Renúncia

O cientista político nicaraguense Andrés Pérez Baltodano, reflectiu ampla e criticamente sobre o Providencial, e suas consequências políticas. 

Atribui à concepção providencial religiosa a demissão que caracteriza a cultura política na Nicarágua e em maior ou menor grau, na maioria dos países latino-americanos Esta cultura ele a caracteriza como de “pragmatismo resignado”. Algumas das suas ideias:

 - O "pragmatismo resignado" é um termo que eu uso para explicar a nossa visão da história e do nosso papel na história. O "pragmatismo resignado" é um pensamento, uma cultura que nos empurra para nos adaptarmos à realidade e aceitá-la como ela é.

 O pensamento pragmático resignado não tem vontade de mudança. Com ele, não podemos escandalizar-mo-nos com a realidade e partir para a sua transformação…Com esse pensamento temo-nos habituados a níveis brutais de pobreza sofrida pelos nossos concidadãos e à impunidade e corrupção de nossos governantes.

E de onde vem o pragmatismo resignado, essa cultura, essa maneira de pensar sobre o poder e a história? Eu acho que o pragmatismo resignado tem suas raízes principais na concepção providencial que dominou a nossa cultura religiosa.

O Providencialismo é uma visão da história que nos leva a acreditar que Deus é que dispõe sobre a vida de cada um de nós. É uma maneira de ver a vida em que Deus é o responsável pelo que acontece com meu tio, comigo, com a sociedade da Nicarágua, do Iraque e do resto do mundo. Nesta visão de história, marcada por um Deus providencial, é ele e não nós, que é o regulador, administrador e auditor de tudo que acontece na história.

Alguns teólogos distinguem entre o que é "providencial meticuloso" e " providencial em geral” e afirmam que em algumas sociedades prevalece o meticuloso e em outras transformaram o meticuloso em geral. 

Providencialismo meticuloso é pensar que Deus está no comando de tudo: chuva e seca, a cura do cancro e a direcção de cada furacão. Dentro do “providencialismo em geral”, algumas pessoas dizem que Deus criou o mundo e, em seguida, deixou-nos sozinhos, enquanto outros dizem que funciona de vez em quando.

 No “Providencialismo em geral” sempre há espaço para a liberdade. Eu, pessoalmente, acho que não precisamos de tirar Deus fora do jogo, mas precisamos de sair deste providencialismo meticuloso em que vivemos, para procurar o lugar de Deus e o da nossa liberdade e, dessa forma, se alguém decide ser ateu, que seja mas um ateu sério.

 Como é que sabe qual a vontade de Deus?

Providencialismo é hoje activamente divulgado pelo catolicismo oficial, nos seus meios de comunicação nos sermões e na devoção à “Divina Providência”. Um dos porta-vozes mais populares da igreja católica, Madre Angélica, diz, por exemplo: Muitas pessoas fazem a pergunta:

 - Como faço para saber qual é a vontade de Deus para mim?

 - A resposta é simples: - Se isso acontecer, é a vontade de Deus.

 Não é relevante se Deus ordena ou se Deus o permite porque nada acontece connosco se Ele não o tiver visto antes, tendo em conta o bem que nos virá a partir dele e esperando a sua aprovação.

A submissão à vontade de Deus que vem de ideias como estas também tem muito a ver com o poder institucional da Igreja. Muitos dos "porta-vozes" das igrejas respondem que a vontade de Deus está expressa nas palavras dos padres e pastores que interpretam a Bíblia e na tradição...

Assim, obedecer à vontade de Deus não é mais que obedecer à vontade do homem, e naturalmente das hierarquias que dizem representar.

Tudo é mais fácil mas não necessariamente mais fácil, porque também é verdade “o medo da liberdade”. Superado esse medo, temos de assumir a responsabilidade pelas nossas vidas e na história.

Crescemos e amadurecemos como adultos.

Lembremos a oração do químico alemão Otto Hahn, Nobel de Química em 1994, que dizia:

-  Que Deus me dê força para não confiar cegamente nem mesmo Nele.

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