sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Os senhores de Bruxelas
Ai Bruxelas... 

Bruxelas...



Quando, de manhã, entro na casa de banho, ao acender a luz, automaticamente ligo o rádio porque o interruptor é o mesmo.

Contudo, pensando melhor, vou mandar desligá-lo para que o meu estado de espírito não fique logo envernizado com as notícias matinais.

Uns senhores de Bruxelas informaram o Governo português que os salários dos nossos trabalhadores têm que continuar a descer nos próximos dez anos.

Ora eu vou fazer setenta e cinco, mais dez são oitenta e cinco o que significa que tenho garantido até ao resto da minha vida o espectáculo deprimente do definhamento do meu país de tal forma que, quando a morte chegar irá ser, garantidamente, um verdadeiro alívio.

Mas não pensem que são só os senhores de Bruxelas a envenenarem os nossos dias, não. O Sr. Presidente do Tribunal de Contas, aquele senhor de óculos muito parecido com o Mister Bean, que supervisiona nas nossas Contas Públicas sem que, até à data, se soubesse de qualquer resultado concreto, prevê vinte anos para o “ajustamento” português o que é o dobro do que disseram os senhores de Bruxelas.

Ora oitenta e cinco mais dez são noventa e cinco anos o que significa que vou morrer num Portugal “desajustado”.

Também temos quem nos dê boas notícias e aí o campeão é o Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas, de todos, aquele em que menos acreditamos, porque nos disse no Verão passado que se ia embora, decisão irrevogável, e quinze dias depois voltou para ser promovido de Ministro dos Negócios a Vice-Primeiro Ministro.

Restam-nos algumas notícias da Televisão. Hoje ouvi, mais uma vez, o investimento em Évora, de 170 milhões de euros da Embraer S.A., empresa brasileira de aviões, com a admissão de vinte engenheiros, espero que portugueses.

Se estes vinte se vierem a juntar aos vinte das notícias anteriores estaremos já quase em cem.

Mas faz bem a televisão em repetir estas boas informações. À uma, porque a memória dos portugueses velhotes é fraca e já esqueceram a mesma notícia dada anteriormente, às duas porque precisamos de ouvir coisas reconfortantes, que nos encham de esperanças, que nos façam acreditar novamente num Abril cheio de cravos, não espetados nos canos das espingardas mas atrás da orelha à marialva, pois então. 

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