Bruxelas...
Quando, de manhã, entro na casa de banho, ao acender a
luz, automaticamente ligo o rádio porque o interruptor é o mesmo.
Contudo, pensando melhor, vou mandar desligá-lo para
que o meu estado de espírito não fique logo envernizado com as notícias
matinais.
Uns senhores de Bruxelas informaram o Governo português que os salários
dos nossos trabalhadores têm que continuar a descer nos próximos dez anos.
Ora eu vou fazer setenta e cinco, mais dez são oitenta
e cinco o que significa que tenho garantido até ao resto da minha vida o espectáculo
deprimente do definhamento do meu país de tal forma que, quando a morte chegar
irá ser, garantidamente, um verdadeiro alívio.
Mas não pensem que são só os senhores de Bruxelas a
envenenarem os nossos dias, não. O Sr. Presidente do Tribunal de Contas, aquele
senhor de óculos muito parecido com o Mister Bean, que supervisiona nas nossas
Contas Públicas sem que, até à data, se soubesse de qualquer resultado
concreto, prevê vinte anos para o “ajustamento” português o que é o dobro do
que disseram os senhores de Bruxelas.
Ora oitenta e cinco mais dez são noventa e cinco anos
o que significa que vou morrer num Portugal “desajustado”.
Também temos quem nos dê boas notícias e aí o campeão é
o Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas, de todos, aquele em que menos acreditamos,
porque nos disse no Verão passado que se ia embora, decisão irrevogável, e qui nze dias depois voltou para ser promovido de Ministro
dos Negócios a Vice-Primeiro Ministro.
Restam-nos algumas notícias da Televisão. Hoje ouvi,
mais uma vez, o investimento em Évora, de 170 milhões de euros da Embraer S.A.,
empresa brasileira de aviões, com a admissão de vinte engenheiros, espero que
portugueses.
Se estes vinte se vierem a juntar aos vinte das notícias
anteriores estaremos já quase em cem.
Mas faz
bem a televisão em repetir estas boas informações. À uma, porque a memória dos
portugueses velhotes é fraca e já esqueceram a mesma notícia dada
anteriormente, às duas porque precisamos de ouvir coisas reconfortantes, que
nos encham de esperanças, que nos façam acreditar novamente num Abril cheio de
cravos, não espetados nos canos das espingardas mas atrás da orelha à marialva,
pois então.
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