sábado, fevereiro 01, 2014

Negro burro. Nem sabe o que é mulher bonita.
A MORTE
E A
MORTE
DE
QUINCAS
BERRO
DÁGUA

Episódio Nº 27



Negro Pastinha recolheu no canto do quarto as velhas roupas do amigo, vestiram-no e reconheceram-no então:

– Agora, sim, é o velho Quincas.

Sentiam-se alegres. Quincas parecia também mais contente, desembaraçado daquelas vestimentas incómodas. Particularmente grato a Curió, pois os sapatos apertavam-lhe os pés.

O camelô aproveitou para aproximar sua boca do ouvido de Quincas e sussurrar-lhe algo sobre Quitéria. Pra que o fez?

Bem dizia Negro Pastinha que aquela conversa sobre a rapariga irritava Quincas. Ficou violento, cuspiu uma golfada de cachaça no olho de Curió. Os outros estremeceram, amedrontados.

– Ele se danou.

– Eu não disse?

Pé-de-Vento terminava de vestir as calças novas, cabo Martim ficara com o paletó. A camisa, Negro Pastinha trocaria, num botequim conhecido, por uma garrafa de cachaça. Lastimavam a falta de cuecas. Com muito jeito, cabo Martim disse a Quincas:

– Não é para falar mal, mas essa sua família é um tanto quanto económica. Acho que o genro abafou as cuecas...

– Unhas-de-fome... – precisou Quincas.

– Já que você mesmo diz, é verdade. A gente não queria ofender eles, afinal são seus parentes. Mas que pão-durismo, que sumiticaria... Bebida por conta da gente, onde já se viu sentinela desse jeito?

– Nem uma flor... – concordou Pastinha. – Parentes dessa espécie eu prefiro não ter.

– Os homens, uns bestalhões. As mulheres, umas jararacas – definiu Quincas, preciso.

– Olha, paizinho, a gorducha até que vale uns trancos... Tem uma padaria que dá gosto.

– Um saco de peidos.

– Não diga isso, paizinho. Ela tá um pouco amassada mas não é pra tanto desprezo. Já vi coisa pior.

– Negro burro. Nem sabe o que é mulher bonita.

Pé-de-Vento, sem nenhum senso de oportunidade, falou:

– Bonita é Quitéria, hein, velhinho? O que é que ela vai fazer agora? Eu até...

– Cala a boca, desgraçado! Não vê que ele se zanga?
Quincas, porém, nem ouvia. Atirava a cabeça para o lado do cabo Martim, que pretendera subtrair-lhe, naquela horinha mesmo, um trago na distribuição da bebida. Quase derruba a garrafa com a cabeçada.

– Dá a cachaça do paizinho... – exigia Negro Pastinha.

– Ele estava esperdiçando – explicava o Cabo.

– Ele bebe como quiser. É um direito dele.

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