sexta-feira, março 14, 2014

A Ciência da Bondade







Por que as pessoas fazem o bem? A bondade está programada no nosso cérebro ou se desenvolve com a experiência? O psicólogo Dacher Keltner, Director do Laboratório de Interacções Sociais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões por vários ângulos e apresenta resultados surpreendentes.

Em seu novo livro Born to be good: the science of a meaningful life (W.W.Norton, 2009, ainda sem tradução em português), Keltner compila descobertas científicas que revelam o poder da emoção humana inata e criam conexões entre as pessoas, segundo ele um caminho eficaz para uma boa vida. Em entrevista, o pesquisador discute altruísmo, neuro-biologia e aplicações práticas de suas descobertas.


Mente&Cérebro – Para o senhor, que quer dizer a expressão “nascido para ser bom”?


Dacher Keltner Significa que a evolução criou uma espécie, os humanos, com inclinação para bondade, brincadeira, generosidade, reverência e auto-sacrifício – vitais para a evolução, vale dizer, sobrevivência, replicação genética e habilidade de convívio em grupo –, que se manifestam por meio de emoções como compaixão, gratidão, medo, vergonha e felicidade.

Estudos recentes revelam que as capacidades humanas de cuidar, brincar e respeitar foram desenvolvidas pelo cérebro e pela prática social.


M&C – Uma das estruturas corporais que parece ter sido adaptada para gerar altruísmo é o nervo vago, como sua equipe em Berkeley descobriu. Fale um pouco sobre essa pesquisa e suas implicações. 


Keltner O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da espinha dorsal. Ele estimula diferentes órgãos (como coração, pulmão, fígado e aparelho digestivo). Quando activo, produz uma sensação de expansão confortável no tórax, como quando estamos emocionados com a bondade de alguém ou ouvimos uma bela música.

 O neuro-cientista Stephen W. Porges, da Universidade de Illinois em Chicago, há tempos argumenta que essa região cerebral é o “nervo da compaixão”.

Acredita-se que esse nervo estimule alguns músculos na cavidade vocal, permitindo a comunicação. Estudos recentes apontam que ele pode estar conectado à rede de receptores para a oxitocina, neurotransmissor relativo à confiança e aos laços maternais.

 Nossas pesquisas e as de outros cientistas indicam que a activação dessa região está associada aos sentimentos de cuidado e intuição que humanos de diferentes grupos sociais têm.

Pessoas com alta activação dessa região cerebral são mais propensas a desenvolver compaixão, gratidão, amor e felicidade.

 A psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade Estadual do Arizona, descobriu que crianças com actividade alta do nervo vago têm mais chances de cooperar e doar. Segundo pesquisas recentes, ele estimula tal comportamento.


M&C – Frequentemente, quando lemos trabalhos académicos sobre emoções, moralidade e áreas relacionadas, perguntamos: existe alguma coisa que possamos fazer para usar isso na prática? Ao olhar para o futuro, que repercussão o senhor gostaria que seu trabalho tivesse?


Keltner Em resumo, após tratar da nova ciência das emoções no meu livro, percebi o quanto isso é útil. Segundo alguns estudos, cooperação e senso moral são traços evolucionários, e essas habilidades são encontradas nas emoções sobre as quais escrevo.

Uma ciência da felicidade está revelando que esses sentimentos podem ser cultivados, o que traz o lado bom dos outros – e o nosso – à tona.


M&C – O que esse tipo de ciência o faz pensar?


Keltner - Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura se torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como diversão, toque, felicidade, que do ponto de vista evolucionário são as fontes mais antigas de prazer.

Vejo essa nova ciência em quase todas as áreas da vida. Os médicos, por exemplo, hoje recebem treino para desenvolver empatia para com seus pacientes, ouvi-los, tocá-los com carinho; são atitudes que ajudam no tratamento.

Os professores interagem com mais proximidade com seus alunos. Ensina-se meditação em prisões e em centros de detenção de menores. Executivos aprendem que inteligência emocional e bom relacionamento podem fazer uma empresa prosperar mais do que se ela for focada apenas em lucros.


NOTANão tenho nenhuma espécie de dúvida que há muito mais pessoas no mundo a fazer o bem ou com tendências para o fazer do que para fazerem mal.

E isto, não obstante, perceber que há uma «ordem» internacional no relacionamento das sociedades, que assenta numa base de interesses materialistas que favorecem a confrontação e, portanto, o mal.

Apetece-me dizer que somos barris de pólvora com maior tendência para largar foguetes do que tiros, simplesmente, o bem não é notícia, é aceite como um comportamento normal enquanto que os maus comportamentos fazem cabeçalhos nos jornais...

Depois, há ainda aqueles casos extremos de um Hitler, de um Staline, Pol Pot, Indi Amim... para nos situarmos apenas na nossa época, relativamente aos quais, temos esperança, de que o mundo esteja cada vez mais atento.

A ciência, não obstante o "Gene Egoísta" de Richard Dawkins, deixa-nos alguma esperança como se pode ver desta pequena entrevista com o psicólogo Dacher Keltner.

Deixem-me transcrever uma pequena passagem do livro O Gene Egoísta:

 - «Sendo os nossos genes egoístas não podemos contar com a ajuda da nossa natureza biológica mas nós, somos também a única espécie, com oportunidade de frustrar as suas intenções.
Os nossos genes podem programar-nos para sermos egoístas, mas não somos necessariamente obrigados a obedecer-lhes.

Entre os animais, o homem é dominado de maneira singular pela cultura, por influências aprendidas e transmitidas através das gerações de tal forma que há quem afirme que os genes são virtualmente irrelevantes para a compreensão da natureza humana.»

Em conclusão: Nos aerópagos internacionais temos que fortalecer uma cultura de solidariedade entre os povos e, com a ajuda da democracia, cada um de nós pode ajudar um bocadinho.

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