terça-feira, março 25, 2014

Era necessário descobri a secreta causa daquela mágoa...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 38










O Tenente Lídio Marinho não tinha opinião preconcebida, apenas constatava o facto: a besta do Vasco, com tudo para ser alegre, era dado a crises de hipocondria, talvez fosse o fígado, de qualquer maneira uma idiotice em homem de tanto dinheiro.

Numa coisa estavam todos de acordo: era necessário descobrir a secreta causa daquela mágoa a roer o peito de Vasco Moscoso de Aragão.

Boa prosa e companhia agradável, rico e moço, gozando uma saúde de ferro, por que, no entanto, dava a impressão de esconder um secreto desgosto, ferida sem cura?

 Preocupavam-se os amigos, sobretudo o Comandante Georges Dias Nadreau, homem de natural alegre, a quem a tristeza e o sofrimento ofendiam pessoalmente.


Do capitão dos portos, com suas negras e mulatas, e Madalena Pontes Mendes, enjoada donzela


O Capitão dos Portos, Georges Dias Nadreau, gostava de ver, a seu redor, caras alegres, lábios abertos em sorrisos.

 Esse o seu clima: não tolerava gente macambúzia, o que talvez explicasse sua aversão ao lar, onde a esposa era a perfeita imagem da tristeza e da devoção, toda entregue à Igreja, às obras de caridade, adorando enfermos e sofredores, órfãos e viúvas, inteiramente feliz na Semana Santa com a Procissão do Encontro, a do Senhor Morto, o lava-pés dos pobres, os círios e os véus negros, o som fúnebre da matraca a substituir o alegre dobrar dos sinos.

Como casara ele, o divertido tenente da Marinha, com moça de temperamento tão diverso do seu? Gracinha, quando ele a conheceu e namorou nos salões do Clube Naval, no Rio, nada tinha de melancólica, era um riso solto e adolescente, a achar espirituosíssimas as farsas montadas pelo rapaz, nem sempre aplaudidas pelos almirantes.

Fora a morte do filho de dez meses a causa daquele desgosto pela vida, daquele desinteresse pelas enganosas alegrias do mundo. O menino, adoração da mãe, adoecera de súbito, febre sem motivo e sem diagnóstico; morrera enquanto Gracinha e o marido estavam numa festa a bordo de um navio de guerra.

 Ela bailava nos braços de Georges quando chegou a notícia. Considerou-se responsável pela morte do filho, vestiu-se de luto para sempre, despediu-se de festas e diversões, voltou-se para o céu onde estava certamente o inocente, e para a Igreja, assim talvez merecesse o perdão de Deus e a possibilidade de reencontrar o filho após a morte diariamente solicitada em suas orações.

Sua repulsa aos bens do mundo incluiu o marido, pelo menos no que se refere a qualquer contacto físico. Georges sofrerá com a morte da criança, a quem apelidara de Marujo e para quem sonhara carreira e sucessos.

 Mas não sucumbiu como a esposa, quis convencê-la da necessidade de outras crianças para encher o lugar deixado pelo Marujo. Ela o repelira com asco, suplicando-lhe, entre lágrimas, que jamais voltasse a procurá-la para tão pecaminosos fins.

 Tais coisas para ela haviam acabado e para sempre. Desejava mesmo ter um quarto seu, separado, e aconselhava Georges a abandonar ele também os falazes prazeres do mundo, voltar-se para Deus, esperar em sua misericórdia perdão para os erros cometidos. 

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