Era necessário descobri a secreta causa daquela mágoa... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 38
O Tenente Lídio Marinho não tinha opinião preconcebida, apenas constatava o facto: a besta do Vasco, com tudo para ser alegre, era dado a crises de hipocondria, talvez fosse o fígado, de qualquer maneira uma idiotice em homem de tanto dinheiro.
Numa coisa estavam todos de acordo: era
necessário descobrir a secreta causa daquela mágoa a roer o peito de Vasco
Moscoso de Aragão.
Boa prosa e companhia agradável, rico e
moço, gozando uma saúde de ferro, por que, no entanto, dava a impressão de
esconder um secreto desgosto, ferida sem cura?
Preocupavam-se os amigos, sobretudo o
Comandante Georges Dias Nadreau, homem de natural alegre, a quem a tristeza e o
sofrimento ofendiam pessoalmente.
Do capitão dos portos, com
suas negras e mulatas, e Madalena Pontes Mendes, enjoada donzela
O Capitão dos Portos, Georges Dias
Nadreau, gostava de ver, a seu redor, caras alegres, lábios abertos em
sorrisos.
Esse o seu clima: não tolerava gente
macambúzia, o que talvez explicasse sua aversão ao lar, onde a esposa era a
perfeita imagem da tristeza e da devoção, toda entregue à Igreja, às obras de
caridade, adorando enfermos e sofredores, órfãos e viúvas, inteiramente feliz
na Semana Santa com a Procissão do Encontro, a do Senhor Morto, o lava-pés dos
pobres, os círios e os véus negros, o som fúnebre da matraca a substituir o alegre
dobrar dos sinos.
Como casara ele, o divertido tenente da
Marinha, com moça de temperamento tão diverso do seu? Gracinha, quando ele a
conheceu e namorou nos salões do Clube Naval, no Rio, nada tinha de
melancólica, era um riso solto e adolescente, a achar espirituosíssimas as
farsas montadas pelo rapaz, nem sempre aplaudidas pelos almirantes.
Fora a morte do filho de dez meses a
causa daquele desgosto pela vida, daquele desinteresse pelas enganosas alegrias
do mundo. O menino, adoração da mãe, adoecera de súbito, febre sem motivo e sem
diagnóstico; morrera enquanto Gracinha e o marido estavam numa festa a bordo de
um navio de guerra.
Ela bailava nos braços de Georges quando
chegou a notícia. Considerou-se responsável pela morte do filho, vestiu-se de
luto para sempre, despediu-se de festas e diversões, voltou-se para o céu onde
estava certamente o inocente, e para a Igreja, assim talvez merecesse o perdão
de Deus e a possibilidade de reencontrar o filho após a morte diariamente
solicitada em suas orações.
Sua repulsa aos bens do mundo incluiu o
marido, pelo menos no que se refere a qualquer contacto físico. Georges sofrerá
com a morte da criança, a quem apelidara de Marujo e para quem sonhara carreira
e sucessos.
Mas
não sucumbiu como a esposa, qui s
convencê-la da necessidade de outras crianças para encher o lugar deixado pelo
Marujo. Ela o repelira com asco, suplicando-lhe, entre lágrimas, que jamais
voltasse a procurá-la para tão pecaminosos fins.
Tais coisas para ela haviam acabado e para
sempre. Desejava mesmo ter um quarto seu, separado, e aconselhava Georges a
abandonar ele também os falazes prazeres do mundo, voltar-se para Deus, esperar
em sua misericórdia perdão para os erros cometidos.
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