Largo do Seminário em Santarém

HOJE É

DOMINGO

(Na minha cidade de Santarém em 16/3/14)

Estamos entalados, literalmente entalados entre a dívida/juros e a austeridade. Espremidos entre essas duas realidades o povo está mais pobre na bolsa e nas suas ambições sem perspectivas, sem projectos de futuro.

Vendemos a EDP, a ANA, os CTT, a Cimpor e ficámos com encargos que só em juros, valem a totalidade do que vendemos sem que voltaremos a ter mais para vender.

Há pouco, à saída do Café, a caminho de casa, uma senhora que me seguia abordou-me e com um sorriso de desânimo perguntou-me se a podia ajudar...

O nosso líder da oposição, Tó Zé Seguro, preconiza agora a mutualização do subsídio de desemprego a nível europeu sempre que ele ultrapasse 7% mas não nos diz que raio de mecanismo vai usar para fazer com que os outros estados-membros se cheguem à frente com o cheque...

Entretanto, Jorge Nuno Pinto da Costa, Presidente do Futebol Clube do Porto, compra para a sua jovem esposa, brasileira de 27 anos, uma mansão de mais de 1 milhão de euros e, no Tribunal prescrevem os processos das multas do Sr. do BCP, Jardim Gonçalves e o mesmo irá acontecer com o Sr. do BPP e, finalmente, do Sr. do BPN, Oliveira e Costa mas sabemos, também, que as cadeias, com mais de 14.000 presos, ultrapassam todos os recordes... tudo em resultado da mesma Justiça que pelos vistos prende uns e deixa prescrever os processos de outros...

E o povo, meio aparvalhado, olha para tudo isto e não sabe se há-de fazer uma revolução ou deixar-se morrer por desespero.

Temos a noção de que seguimos um trilho descendente e ainda que alguns nos embalem com esperanças de que algo irá acontecer na Europa que não pode ignorar o desfecho de uma situação que ela própria ajudou a criar, o que é facto é que sinais disso nem visto-los.

Pelo contrário, dizem que vamos bem, que o pior da crise está ultrapassado, mas que temos que continuar com a austeridade que significa cada vez pensões mais baixas, ordenados mais pequenos e menos qualidade e quantidade dos Serviços do Estado em matéria de Saúde e Educação.

Os senhorios, com uma casita para alugar por ter ficado vaga de um inquilino que deixou de pagar a renda por ter ficado desempregado, já só pedem metade da renda da que recebiam e o jovem, cansado de esperar, aceita qualquer trabalho, precário - dos outros já não há -  mesmo contra um pagamento abaixo do salário mínimo.

Estamos agora a chegar a um período de eleições e aguardamos o leilão das inevitáveis promessas que aí vêm e como estamos precisados que nos prometam qualquer coisa...

... Digam-nos, por exemplo, que há fortes probabilidades de se descobrir o famigerado petróleo, seja em terra ou no mar e que as reservas de gás natural ultrapassam em muito as da vizinha Espanha.

Que há indícios de filões de ouro riquíssimos, em Monte-Mor- O - Novo ou, mais a norte, em Vila Pouca de Aguiar que, só por si dão para encher novamente, em lingotes, as caves do edifício do Banco de Portugal.

Digam-nos, finalmente, que a Srª Merkel, conquistada em definitivo pelo charme de Passos Coelho ou pela beleza das nossas praias solarengas, uma coisa ou outra, não se sabe bem, resolveu recomendar aos seus compatriotas que invadam o nosso país com investimentos, que se instalem entre nós para passar o resto das suas vidas substituindo russos, angolanos, chineses e em breve, cidadãos dessa nova coqueluche da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, CPLP, que é a Guiné Equatorial, do ditador Teodoro Obiang cujo filho, Teodorin, tem como planos mandar construir um iate igual ao "Pelorus", de Abramovitch, nem que para isso tenha de mandar cortar e vender todas as árvores das florestas do seu país e que se prepara, agora, para entrar no capital do BANIF.

E se nós não nos deixarmos levar por estas radiantes promessas, se não enchermos com elas o nosso esvaziado capital de esperança então, internem-nos a todos como casos perdidos de uma geração de portugueses...