Como Cidadãos
Retratei ontem, pela pena de Miguel Sousa Tavares, num texto de 2009 publicado no Expresso, um Portugal como país de anedota, governado por gente de fraco senso na cabeça e os exemplos apresentados iam todos nesse sentido.
Miguel Sousa
Tavares é um homem de gostos naturais,
sensibilidade apurada e amante de um Portugal "selvagem" e eu, que
ainda tive oportunidade de conhecer um bocadinho esse Portugal esquecido, do
antigamente, das aldeias cheias de gente, da agricultura intensiva, das hortinhas
já trabalhadas ao pôr do sol depois de um dia de trabalho compreendo-o.
Quando os caminhos do campo eram percorridos
intensamente a pé ou de bicicleta, o mato era roçado para a cama dos animais e
os fogos passavam despercebidos na ausência, ainda, das grandes extensões de
eucalipto .
As críticas de MST que têm a ver com muitas das
decisões políticas de hoje, do portugal Europeu mas que reflectem, igualmente, uma nostalgia pelo
Portugal paisagístico de há sessenta ou setenta anos atrás quando não havia dinheiro nem
para mandar cantar um cego.
Sem dúvida, que
muitas coisas se fizeram neste país apenas porque havia dinheiro...dinheiro
negociado em Bruxelas aos milhões na sequência dos Apoios Comunitários e cujo
objectivo era proporcionar aos portugueses mais desenvolvimento, melhor
qualidade de vida, aproximá-los dos cidadãos dos restantes países
da Europa Central.
Habituados a
"contar os tostões", de repente vimo-nos com a tarefa de gastar
milhões, demasiados milhões para a nossa capacidade de os aplicar: por
deficiências humanas da nossa máqui na
administrativa e de um sector privado que, pela primeira vez na vida do país,
tinha um Estado ávido de gastar dinheiro dentro de determinados prazos sob o
risco de ter que o devolver... e ela, a sociedade civil, os espertalhucos, não se fizeram rogados.
Gabinetes de Contabilidade e Projectos
encarregaram-se, a troco de boas comissões, ensinar as pessoas a obter dinheiro
do Estado.
Estávamos ainda
no primeiro governo de Cavaco Silva, tínhamos acabado de negociar o 1º Quadro
Comunitário de Apoio e aconteceu um bocadinho daqui lo
que sucede quando "um pobrezinho" recebe a taluda do euromilhões: uma
boa parte dele não foi aplicado em benefício do destinatário, neste caso, o
país.
Esta
auto-estrada, a A6, do Alentejo Central, concluída em 2009, referida por MST,
parece realmente uma auto-estrada fantasma. Já o comprovei nas minhas idas a
Espanha, quando vou de férias.
No fundo, é um luxo que está ali, mas podíamos
ter deixado de a fazer? Para quantas gerações se faz uma auto-estrada?
- Como se teria
aplicado o dinheiro que veio da Comunidade para a construir?
- Teriam sido os Apoios bem negociados quanto
aos seus objectivos?
- Em caso
afirmativo terão sido depois bem aplicados?
- Em última análise tinha Portugal alguma
outra saída que não a de se integrar na Comunidade Europeia com todas as
vantagens e desvantagens daí decorrentes?
Todas estas
questões são legítimas mas na opinião das pessoas mais responsáveis e
entendidas, umas mais europeístas que outras, a resposta é não.
Muitos dos erros cometidos ao longo de todo
este processo devem ser imputados a nós, portugueses, que enfermamos de todos
aqueles vícios que MST tão bem conhece e denuncia.
Entrámos, agora, num período de expiação dos erros cometidos e não sabemos bem onde ele nos
vai levar porque ignoramos dados do problema que não têm a ver connosco mas sim
com a Europa e com o Mundo.
Entre nós, discute-se, neste momento, se devemos ou não renegociar a Dívida
Pública, uma bagatela de mais de 200 mil milhões de euros, cerca de 130% do PIB
que, não têm condições para serem pagos nos actuais prazos de liqui dação e ao preço a que está estabelecido pela
simples razão de que não há milagres...
Veio logo o 1º Ministro gritar:
- Nem pensar! Não
renegociamos nada! Vamos pagar tudo, tim-tim por tim-tim, conforme está
previsto!
Acalmem-se os mercados, ou seja, os credores. O governo não fará
nada, nem dirá nada que possa contribuir para agravar a taxa de juros dos empréstimos
que temos de continuar a contrair para a máqui na
do Estado poder a funcionar – é o que todos pensamos à boca calada... ou já se
esqueceram o que aconteceu à taxa de juro a quando da carta de Paulo Portas, no
Verão passado, a dizer que se ia embora?...
Vivemos tranzidos de medo pelo dia de amanhã, do que pode acontecer na Europa, na disposição da Sra Merkel, no que pensam os credores, as Agências de Notação e agora até do Sr. Putin de quem depende a paz na Ucrânia...
Não fazer nada nem dizer nada é a política do 1º Ministro do nosso país com muita gente a apoiá-lo, muitos deles em silêncio....um silêncio de tudo e de todos, um silêncio de morte.
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