sexta-feira, abril 11, 2014

Acontecimentos festejados madrugada adentro...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 52










A voz recordava outra voz, familiar, Mimi quase a reconheceu. Idiotice, como iria ser o Tenente Lídio aquele mascarado? Obedeceu ao chamado, aproximou-se. Com a mão livre, o bandido começou a tocar-lhe as carnes nuas, sentou-a no colo.

O desembargador sentia-se desmaiar, a barriga desarranjada, súbitas cólicas incontroláveis.
Os outros chegavam do quarto com Dorothy, um deles levava-lhe a mala. Mimi foi afastada do gentil bandido (o mesmo perfume usado pelo Tenente Lídio Marinho, que engraçado!), e, de costas, as armas apontadas contra o desmoralizado desembargador, os invasores ganharam a escada e a desceram numa correria.

 O Desembargador Rufino murmurou:

- Preciso de um banho. . .

Carol, liberta da mordaça, atendeu ao velho em primeiro lugar, havia esquecido, em seus bem traçados planos, ser a terceira quinta-feira do mês, dia do desembargador. Despachou-o para o banheiro, acompanhado por Mimi, com sabonete novo e toalha limpa.

Foi depois libertar Roberto, manteve com o jovem médico longa conversa. Era melhor para sossego de todos que não mais voltasse à Pensão Monte Cario e desistisse de vez de Dorothy.

 Senão aqueles tipos sem entranhas, saídos ninguém sabe de onde (“são os parentes dela.. .”, persistia Roberto em sua opinião), podiam voltar, matá-lo ali mesmo ou no salão de danças, arruinando para sempre o negócio e o conceito de Carol, em cuja casa jamais houvera escândalo, pancadaria ou crime.

- Vou embora para o Rio no primeiro vapor...

- E, enquanto espera, é melhor não sair de casa... Deixou-lhe Roberto o dinheiro que levava consigo, não era muito mas servia. Afinal era ele o responsável por aquela invasão, pelo susto do desembargador - borrava-se todo o pobrezinho! - pelos danos morais sofridos pela Pensão Monte Cario.

Quando circulasse a notícia, quem ainda se atreveria a frequentar tão perigoso lugar? Roberto prometeu mandar-lhe quantia maior antes de viajar. Apenas pedia a Carol para descer e examinar as imediações, não tivesse ficado por ali na toca algum dos bandidos. Ela regressou afirmando estar tudo calmo e ele partiu.

Ria-se ainda Carol, em sua cadeira de balanço, quando saiu do banho o desembargador. Desejava ele também deixar quanto antes aquelas temerárias paragens, mas como fazê-lo sem ceroulas? Se vestisse as calças em cima da pele, iria pegar pelo menos uma gripe forte, quem sabe uma pneumonia.

Carol emprestou-lhe rendadas calçolas de uma das pequenas, magra e de pernas compridas. Riram ela e Mimi ao verem-no assim ataviado e riu-se também o desembargador.

Aceitou um cordial após vestir-se e, se bem recusasse ficar naquela mesma tarde - como iria conseguir alguma coisa após o susto? - prometeu retornar na próxima quinta-feira, já convencido de que tal escândalo não voltaria a renovar-se.

Explicou-lhe Carol o sucedido como consequência de antigas inimizades de Roberto agora para sempre com a entrada proibida na Pensão Monte Cario. Mau elemento, concordou o desembargador, pagando a Mimi o tempo e o banho, beijando a mão de Carol e pedindo às duas segredo sobre sua mal cheirosa participação nos acontecimentos.

Acontecimentos festejados madrugada adentro, ruidosamente, pelos amigos, os quatro habituais e mais outros cinco ou seis cuja participação no rapto se fizera necessária para dar-lhe encenação mais brilhante, a gosto do Comandante Georges Dias Nadreau. 

Site Meter