quinta-feira, abril 10, 2014

Não tente procurá-la, se tem amor à vida...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 51










Naquele dia Carol ficara na pensão, descansava em sua cadeira de balanço na sala. Também uma das pequenas - a pícara Mimi, quase adolescente ainda - estava num quarto, ocupada.

Era dia do Desembargador Rufino, velhote de setenta anos. Vinha ele invariável e preciso uma quinta-feira sim, outra não, às três da tarde.

Ouvia-se sua respiração ofegante na escada quando o cuco da sala começava a anunciar a hora. Pagava bem o desembargador, exigia, porém, meninas novinhas assim como Mimi, mais ou menos da idade de sua neta. Trazia um pacotinho de doces e balas, beijava a mão de Carol.

Apenas trancara-se o desembargador no quarto, despia-se ainda, começara a desatacar a reata dos borzeguins para em seguida tirar as ceroulas, quando o tropel dos invasores suspendeu-lhe o gesto:

- Que barulho é esse?

Mimi não sabia, estava nua na cama a comer doces e confeitos. Um grito desesperado ecoou na sala, era Carol a pedir socorro. Mimi saltou da cama, abriu a porta, o desembargador acompanhou-a sem se dar conta, um pé calçado, um descalço, o descarnado peito nu, as vacilantes pernas metidas nas ceroulas de algodão.

Na cadeira, Carol tinha a boca amordaçada com um lenço e um mascarado apontava-lhe uma garrucha. Ouviam-se sons confusos vindos do quarto de Dorothy. Continuando a visar o peito de Carol, o mascarado voltou-se para Mimi e para o apavorado desembargador:

- Os dois aí... Paradinhos, nem um movimento...

- Não fiz nada... - choramingou o velho. - Deixe-me ir embora, meu filho é deputado, pelo amor de Deus...

- Não dê um passo ou recebe chumbo...

- Em que eu fui me meter, meu Deus . . . Que não irão dizer quando souberem... Pelo amor de Deus, deixe-me ir embora...

Pela porta escancarada do quarto de Dorothy chegava a voz de Roberto, súplice:

- Não me matem... Não tenho nada com ela... Não fui o primeiro, ela mesma pode dizer. Quando encontrei ela, já era furada... Ela mesmo que diga...

Porque Roberto tomara os raptores por indignados parentes de Dorothy, vingativos sertanejos, chegados de Feira de Sant’Ana para lavar no sangue a honra da moça.

No sangue do sedutor, e certamente pensavam ter sido ele quem a desencaminhara e a trouxera para a vida. Tentava explicar tinha-a encontrado já descabaçada, quase morta à fome num canto de rua.

Com as armas apontadas, os bandidos reduziram-no ao silêncio. Um deles trazia um rolo de cordas, era mestre em nós, amarrou-lhe braços e pernas. Outro, com voz fanhosa, ordenou a Dorothy vestir-se e arrumar sua mala. Partiram com ela, deixando Roberto de olhos esbugalhados, o suor a escorrer-lhe pela testa, fazendo-lhe uma última recomendação:

- Não tente procurá-la, se tem amor à vida.

Na sala, o outro bandido sentara-se numa cadeira em frente a Carol, para mais comodamente apontar-lhe a arma, e ordenou a Mirai:

- Venha cá... Aqui juntinho de mim, não tenha medo.

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