Não tente procurá-la, se tem amor à vida... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 51
Naquele dia Carol ficara na pensão, descansava em sua cadeira de balanço na sala. Também uma das pequenas - a pícara Mimi, quase adolescente ainda - estava num quarto, ocupada.
Era dia do Desembargador Rufino, velhote
de setenta anos. Vinha ele invariável e preciso uma qui nta-feira
sim, outra não, às três da tarde.
Ouvia-se sua respiração ofegante na
escada quando o cuco da sala começava a anunciar a hora. Pagava bem o
desembargador, exigia, porém, meninas novinhas assim como Mimi, mais ou menos
da idade de sua neta. Trazia um pacotinho de doces e balas, beijava a mão de
Carol.
Apenas trancara-se o desembargador no
quarto, despia-se ainda, começara a desatacar a reata dos borzeguins para em
seguida tirar as ceroulas, quando o tropel dos invasores suspendeu-lhe o gesto:
- Que barulho é esse?
Mimi não sabia, estava nua na cama a
comer doces e confeitos. Um grito desesperado ecoou na sala, era Carol a pedir
socorro. Mimi saltou da cama, abriu a porta, o desembargador acompanhou-a sem
se dar conta, um pé calçado, um descalço, o descarnado peito nu, as vacilantes
pernas metidas nas ceroulas de algodão.
Na cadeira, Carol tinha a boca
amordaçada com um lenço e um mascarado apontava-lhe uma garrucha. Ouviam-se
sons confusos vindos do quarto de Dorothy. Continuando a visar o peito de
Carol, o mascarado voltou-se para Mimi e para o apavorado desembargador:
- Os dois aí... Paradinhos, nem um
movimento...
- Não fiz nada... - choramingou o velho.
- Deixe-me ir embora, meu filho é deputado, pelo amor de Deus...
- Não dê um passo ou recebe chumbo...
- Em que eu fui me meter, meu Deus . . .
Que não irão dizer quando souberem... Pelo amor de Deus, deixe-me ir embora...
Pela porta escancarada do quarto de
Dorothy chegava a voz de Roberto, súplice:
- Não me matem... Não tenho nada com
ela... Não fui o primeiro, ela mesma pode dizer. Quando encontrei ela, já era
furada... Ela mesmo que diga...
Porque Roberto tomara os raptores por
indignados parentes de Dorothy, vingativos sertanejos, chegados de Feira de
Sant’Ana para lavar no sangue a honra da moça.
No sangue do sedutor, e certamente
pensavam ter sido ele quem a desencaminhara e a trouxera para a vida. Tentava
explicar tinha-a encontrado já descabaçada, quase morta à fome num canto de
rua.
Com as armas apontadas, os bandidos
reduziram-no ao silêncio. Um deles trazia um rolo de cordas, era mestre em nós,
amarrou-lhe braços e pernas. Outro, com voz fanhosa, ordenou a Dorothy
vestir-se e arrumar sua mala. Partiram com ela, deixando Roberto de olhos
esbugalhados, o suor a escorrer-lhe pela testa, fazendo-lhe uma última
recomendação:
- Não tente procurá-la, se tem amor à
vida.
Na sala, o outro bandido sentara-se numa
cadeira em frente a Carol, para mais comodamente apontar-lhe a arma, e ordenou
a Mirai:
- Venha cá... Aqui
juntinho de mim, não tenha medo.
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