sexta-feira, abril 18, 2014

E no dia da entrega do título, vamos fazer uma farra bestial...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio  Nº 58                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            



- Tem razão. Esqueci de lhe dizer que não é necessário ser piloto, prático, oficial de bordo para fazer o concurso. É aberto a todo mundo.

É claro que, em princípio, só o requerem homens de bordo, em geral após uma vasta experiência. Mas ainda há pouco, para certificar-me, estudei a lei que estabeleceu o concurso: é aberto a qualquer pessoa. Só você requerer. Aliás, já estou com o borrão do requerimento pronto, você só tem o trabalho de copiar e assinar.

Estendia-lhe outro papel, Vasco ficava com ele na mão:

- Muito bem, posso requerer. E como vou fazer os exames, não sei nada desse latim todo, nunca vi coisa tão complicada. Sem falar na tese, onde vou buscar conhecimentos para escrevê-la? Não gosto de escrever nem carta, levei muito esporro de meu avô por isso...

- Já providenciei tudo, meu velho. A tese, descrição de uma viagem de Porto Alegre ao Rio, passando por Florianópolis e Paranaguá, já está sendo escrita.

- Você mesmo?

- Não, até aí não vou, estou velho para isso. O Tenente Mário está lhe prestando esse favor... Depois você, se quiser, lhe dá um presente... Uma besteira qualquer...

- O que ele preferir, sem falar na minha amizade eterna, Mas, e os exames orais? Não sei pitangas de nada do que está nesse papel.

- Simples, meu filho, pensei em tudo. Sobre cada matéria vamos formular duas ou três perguntas e, ao mesmo tempo, as respostas. Lhe entregamos perguntas e respostas. Você decora as respostas, presta os exames, é aprovado com distinção, recebe seu bendito título.

Vasco parecia duvidar da realidade daquela oferta inesperada.

Georges continuava:

- Não se esqueça que a banca examinadora é nomeada e presidida por mim. vou designar o Tenente Mário e o Tenente Garcia, bons rapazes e seus amigos. E fica sendo você comandante, jurado e sacramentado, e sem perigo para a humanidade porque jamais irá se meter a comandar navio.

- Deus me livre.

Georges levantou-se, bateu nas costas de Vasco:

- E, se depois me aparecer ainda de crista caída, junto aos marinheiros, mando lhe dar uma surra.

O coronel interveio, esfregando as mãos:

- E no dia da entrega do título, vamos fazer uma farra bestial. 

Maior que a de ontem... Dessas de lavar a alma.

- Daqui a um mês reunirei a banca examinadora - anunciou Georges.

- Por que tanto tempo? - amedrontou-se Vasco.

- Você já está apressado, hein? Para dar tempo a Mário de redigir o trabalho escrito e a você de copiá-lo com sua letra e decorar as respostas para a oral, uma por uma, tintim por tintim.

Tem que saber tudo na ponta da língua. Esse é o preço que você vai pagar pelo título de capitão de longo curso, seu comandante de merda.

- E se eu me atrapalhar na hora do exame, se ficar nervoso?

- Não se atrapalhe, não fique nervoso. E agora copie o requerimento e depois dê o fora, tenho trabalho a fazer.

- Vamos começar a preparar as comemorações - avisou o coronel.

Vasco curvou-se sobre o papel, passou a copiar. Estava tonto, tudo aquilo parecia-lhe irreal, um sonho absurdo. Sentia os olhos húmidos, mal podia enxergar as letras. Nada no mundo igual à amizade, os amigos são o sal da terra. Gostaria de dizer-lhes, não sabia como.

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