sábado, abril 12, 2014

Richard Dawkins
A Religião

– Um tiro fora do alvo











A comediante americana Cathy Ladman observou que “todas as religiões são iguais: religião é, basicamente, sentimento de culpa com feriados diferentes”.

Não é crível que o motivo pelo qual temos religião seja porque ela reduzia os níveis de stress dos nossos antepassados.

A religião é um fenómeno vasto que carece de uma teoria vasta para o explicar.

Outras teorias de que “a religião satisfaz a nossa curiosidade sobre o universo e o nosso lugar nele” ou “a religião é consoladora” não são explicações darwinianas embora possa haver nelas alguma verdade psicológica.

Steven Pinker dizia, relativamente à teoria do “consolo”, “porque há-de uma mente evoluir para encontrar consolo em crenças que claramente se sabe que são falsas?”

Mas para os cientistas darwinianos o que interessa é encontrar as causas profundas ou seja, qual a pressão da selecção natural que favoreceu tal ocorrência.

Suponhamos que os neurologistas descobrem no cérebro um “centro-deus”, então é preciso saber a razão pela qual os nossos antepassados com uma tendência genética para desenvolver nos seus cérebros esse “centro-deus” sobreviveram de maneira a terem mais netos do que os outros que não a tinham.

Tão pouco os darwinianos se dão por satisfeitos com explicações de natureza política, do género: “a religião é uma ferramenta usada pela classe dirigente para subjugar as classes inferiores”.

É verdade que consolava os escravos negros da América com promessas de outra vida, o que lhes embotava o descontentamento com a vida deste mundo e beneficiava, assim, os seus donos.

Se as religiões são deliberadamente criadas por sacerdotes cínicos ou por governantes, é uma questão interessante à qual os historiadores devem prestar atenção, mas não é uma questão darwiniana.

O investigador darwiniano quer saber por que razão as pessoas são vulneráveis aos encantos da religião expondo-se, desse modo, à exploração de sacerdotes, políticos e reis.


A Religião como um Sub-Produto de outra coisa

Numa perspectiva darwiniana, Richard Dawkins vê a religião, cada vez mais, como um sub-produto de outra coisa como, de resto, um número crescente de biólogos.

Para explicar esta ideia o autor socorre-se de um exemplo concreto que tem a ver com a traça uma vez que ele próprio é um especialista nesta área.

Este animal voa em direcção à chama da vela e isso não parece acontecer por acaso. De propósito, elas fazem desvios no voo para se oferecerem em sacrifício numa auto-imolação e a pergunta que fazemos é esta:

 - Como diabo pode a selecção natural favorecer um comportamento destes?

Não, a selecção natural não favoreceu este comportamento que não passa, afinal de um sub produto do verdadeiro comportamento, esse sim, ditado pela selecção natural.

A luz artificial das velas é coisa recente nas noites que eram apenas iluminadas pela lua e pelas estrelas. Essas fontes de luz estão no infinito óptico pelo que os raios delas nos chegam paralelos.

Por esta razão, os insectos podem seguir estes raios para se deslocarem em linha recta e encontrarem o caminho de casa mas, se estes raios não forem paralelos e antes divergirem como os raios de uma roda e, se os seguirmos, iremos dar ao eixo da roda ou seja, á chama da vela.

Um comportamento fatal nestas circunstâncias decorre de uma regra boa que leva as traças, no silêncio das noites, seguindo a luz da lua e das estrelas até à sua casa que é o que acontece na esmagadora maioria das vezes e acontecia sempre antes do aparecimento das luzes artificiais.

Deixemos agora as borboletas das traças uma vez que elas já desempenharam nesta problemática o seu papel exemplificativo do que é um comportamento sub produto – tiro fora do alvo -  do verdadeiro e correcto comportamento que se desenvolveu com base na selecção natural.

Centremo-nos nas crianças. É sabido que nós sobrevivemos, mais do que qualquer outra espécie, por experiências acumuladas pelas gerações anteriores, experiências essas que têm de ser transmitidas às crianças para a sua protecção e bem-estar.

Em teoria, as crianças também podem aprender através da sua experiência, à sua custa como se costuma dizer, a não se aproximarem dos penhascos, a não comerem bagas vermelhas desconhecidas, a não nadarem em águas infestadas de crocodilos mas, dessa forma, quantas não teriam sido sacrificadas sem chegarem a ter tempo para se reproduzirem?

Assim, constitui uma vantagem selectiva as crianças dotadas de um cérebro que contiver a simples regra prática:

 - “Acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te digam. Obedece aos teus pais, obedece aos chefes da tribo, sobretudo quando eles te falarem num tom grave e ameaçador, confia nos mais velhos sem contestar”.

Mas, tal como no caso das traças, pode dar mau resultado... porque um dia dizem à criança - “tens de sacrificar uma cabra durante a lua cheia senão a chuva não vem” e ela acredita porque não sabe distinguir os bons conselhos, ... “não te metas no Limpopo que está infestado de crocodilos” dos maus ou inúteis de “matar a cabra durante a lua cheia para vir a chuva...”.

O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente.

 A selecção natural para a sobrevivência apenas ensinou que os cérebros das crianças precisam de acreditar nos pais e nos mais velhos de tal forma que aquele que acredita não tem forma de distinguir os bons dos maus conselhos pela mesma razão que a borboleta da traça não sabe que aquele raio de luz a levará à morte e não a casa... ela só sabe que tem de seguir o raio de luz da mesma maneira que a criança sabe que tem de acreditar e obedecer.

Ambos os avisos, o da cabra e o dos crocodilos, aos ouvidas da criança parecem igualmente dignos de confiança pois ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos com grave seriedade que inspira respeito e exige obediência.

E quando a criança crescer e tiver filhos seus, ela irá transmitir-lhes tudo – quer o bom senso quer o disparate – com toda a naturalidade, usando o mesmo ar grave e contagiante.

Ao longo das gerações, como o acreditar e obedecer se traduziram numa vantagem para a sobrevivência e procriação, a nossa espécie foi evoluindo para uma sociedade de crentes.

Os líderes religiosos estão conscientes da vulnerabilidade do cérebro das crianças e da importância desta ser doutrinada em tenra idade.

Já dizia o Jesuíta: - “... dai-me a criança durante os seus primeiros sete anos e eu dar-vos-ei o homem”.

 - Por que se morre de amor?

- Por que se mata por ciúme?

 - Por que se mata por Deus?

Definitivamente, o nosso cérebro está cheio de armadilhas... e já agora, obrigado às traças e ao Richard Dawkins.

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