segunda-feira, abril 07, 2014

Tudo isso prova de sobejo não faltarem motivos ao Comandante...

OS VELHOS

 MARINHEIROS

Episódio Nº 48










Se transcrevo aqui o texto integral da honrosa carta do ínclito baiano, é para que a leia o pasquineiro Wilson Lins. Escondido no pseudónimo de Rubião Braz, esse jornalista de maus bofes tentou arrasar-me numa crónica em A Tarde, levar-me ao ridículo.

Tivesse eu um título de doutor e ele teria sido mais amável e cordial. Ele e toda a crítica. Em vez de destratar-me, seria um coro de elogios. Esses críticos apressados deviam tomar conhecimento da referência feita ao meu trabalho por um historiador eminente de São Paulo, o doutor Sérgio Buarque de Holanda, a quem eu nem sequer havia mandado o volume por desconhecer-lhe, confesso, a existência e a glória.

No Estado de São Paulo, num artigo a propósito de certa Benemérita e Venerável Ordem do Hipopótamo Azul, aludiu ele aos Vice-Presidentes da República, citando-o como um dos livros de cabeceira daquela douta instituição, volume, acrescentava, que é “um gozo, uma verdadeira delícia”.

Propunha inclusive, em seu evidente entusiasmo pela obra, minha candidatura para a Venerável Ordem, em cujos quadros parecia-lhe indispensável figurasse meu obscuro nome.

 Da Ordem sei apenas o que sobre ela escreveu o Dr. Holanda, numa linguagem um tanto esotérica e confusa como, aliás, deve ser a linguagem de um verdadeiro historiador.

Consegui depreender, no entanto, tratar-se de instituição de elevados méritos e objectivos, fundada na igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife, por figuras exponenciais de nossa intelectualidade.

Infelizmente não voltei a ter notícias nem da Ordem nem de minha candidatura tão generosamente lançada pelo Dr. Sérgio de Holanda. Certamente procederam a investigações, descobriram que não sou doutor, sabotaram-me.

Palavras de lato louvor, desvanecedoras, mereceu o livro igualmente do nosso ilustre juiz aposentado, Dr. Alberto Siqueira. Apontou-me ele dois ou três insignificantes cochilos gramaticais, mas afirmando não passarem tais deslizes de nonadas desprezíveis em obra tão meritória e patriótica.

 Os deslizes fá-los-ei desaparecer numa segunda edição próxima, pois esgotei praticamente os quinhentos exemplares da primeira, apesar da má vontade das livrarias - falta-me o prestígio de um título - que não lhe concederam vitrinas nem boa exposição nos balcões, escondendo-o nas prateleiras.

Vendi-o eu mesmo, a amigos e conhecidos, um aqui, outro acolá, variando no preço conforme a bolsa do comprador.

Tudo isso prova de sobejo não faltarem motivos ao Comandante Vasco Moscoso de Aragão para melancolias e preocupações. Um título recomenda um nome, dá-lhe importância, abre portas e braços, força a consideração.

Tanto isso é verdade que mesmo pessoas as mais simples sentem a agudeza do problema. Ainda há alguns dias, Dondoca, canora patativa cujo gorjear constante alegra as monótonas existências do Meritíssimo e deste vosso criado, comunicou-me, entre beijos, sua próxima e solene formatura, com quadro e beca.

Guardara segredo de seus estudos para fazer-me uma surpresa. E a fez das maiores, a nossa galante Dondoca (nossa: isto é, minha e do juiz, bem entendido) mal sabe assinar o nome e conta pelos dedos longos e formosos.

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