Fugiu... anunciou Chico Pacheco - Nunca mais vai voltar. |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 74
Vai, não vai, é um farsante, é um grande
homem, a discussão cresceu, a notícia se espalhara, arrancando das casas os
aposentados e retirados dos negócios e trazendo-os à estação, apesar da chuva
sem tréguas, cada vez mais forte.
Discussão e chuva continuaram mesmo depois da
partida do comandante, acompanhado de Balbina, pelo trem das duas da tarde,
vestido com sua farda de gala.
Caco Podre carregava-lhe as malas, na
mão o comandante levava a magnífica luneta. Na estação, apertou, num adeus, as
mãos de amigos e adversários, indistintamente; apertaria a de Chico Pacheco
talvez, se o ex-fiscal do consumo não se houvesse afastado para um extremo da
plataforma.
Quando a composição chegou, o Comandante
Vasco Moscoso de Aragão abraçou Zequi nha
Curvelo, prendendo-o longamente contra o peito. Não disse uma palavra. Da porta
do vagão, bateu a mão no boné em continência.
- Fugiu ... - anunciou Chico Pacheco. -
Nunca mais vai voltar.
- Vai comandar o navio até Belém - afirmou
Zequi nha Curvelo.
- É preciso ser muito burro para
acreditar nisso. Se não arranjarem outro comandante, esse navio cria raízes no
porto. O charlatão vai é sumir no mundo, ninguém vai saber mais dele.
- Calúnias.
- E por que então ele levou a empregada?
Um dia desses, vocês vão ver, aparece alguém para recolher-lhe os trastes,
trazendo a notícia de que a casa foi vendida. Ele já estava preparando a fuga,
apenas se apressou.
- A verdade se saberá. Quem viver, verá
- disse Zequi nha, que amava as grandes
frases.
Às cinco horas da tarde, vários deles
encontravam-se na praia, apesar da chuva. Dali viam o cais da Bahia,
distinguiam no dia enevoado o vulto negro e majestoso do Ita nas manobras de
desatracação.
Saía fumaça do bueiro, estaria apitando
naquele momento. Rumava depois em direcção à barra, desaparecia alem do
quebra-mar.
E as discussões prosseguiram, ásperas e
violentas, até que os jornais trouxeram as primeiras notícias, chegadas por
telegrama.
TERCEIRO EPISÓDIO
MINUCIOSA DESCRIÇÃO DA IMORTAL VIAGEM DO
COMANDANTE A COMANDAR UM ITA, DOS MÚLTIPLOS SUCESSOS DE BORDO, ROMÂNTICOS
AMORES, DISCUSSÕES POLÍTICAS, VISITA GRATUITA AS CIDADES NAS ESCALAS, COM A
CÉLEBRE TEORIA DAS BAQUEANAS E OS VENTOS EM FÚRIA DESATADOS
Do Comandante na Ponte de Comando
Subiu a escada de bordo acompanhado por
Américo Antunes, o representante da Companhia.
Um marinheiro levava-lhe as duas maletas.
Forte comoção tomou-lhe o peito quando pôs os pés no navio, mal escutava a voz
do outro a apresentá-lo a um homem bem trajado:
- O Dr. Homero Cavalcanti, senador pelo
Rio Grande do Norte, o Comandante Vasco Moscoso de Aragão...
- Uma sorte, Comandante, encontrar-se o
senhor na Bahia. Senão estaríamos retidos aqui ,
para mim seria um horror. Tenho assuntos importantes em Natal a esperar-me...
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