Apaixonamos?
Por que nos apaixonamos?
Por que concentramos numa pessoa toda a nossa atenção
como se ela fosse a única no mundo?
Por que suspiramos longa e repetidamente quando
estamos apaixonados?
Por que ficamos possuídos de uma enorme energia que
nos permite andar a noite toda e conversar até ao amanhecer?
Por que bate o nosso coração mais depressa e nos suam
as mãos quando estamos juntos da pessoa amada?
Por que chegamos ao ponto de pôr termo à vida por não
sermos capazes de a enfrentar sem essa pessoa?
A primeira reposta para todas estas perguntas que são
apenas uma síntese de muitas outras que se poderiam colocar é muito simples:
- Porque o amor faz parte da nossa própria natureza,
tanto quanto o medo ou a fome, e terá começado nos primórdios da humanidade
tendo evoluído da simples atracção sexual até ao amor romântico que cativa e
nos prende ao nosso parceiro sexual.
Se hoje é mais difícil criar um filho sem a
intervenção, a presença ou o apoio de um pai, como não teria sido no princípio
desta longa caminhada que a humanidade já trás percorrida, quando as mulheres
transportavam, em regiões perigosas, um filho nos braços e não nas costas como
os restantes primatas, com um corpo despido de cabelos onde ele não se podia agarrar,
e que tinha ainda, entre outras coisas, que procurar comida?
O amor romântico constituiu um factor decisivo no
triunfo da nossa espécie porque assegurou e deu consistência à relação entre o
pai e a mãe sem a qual os filhos dificilmente sobreviveriam e explica porque o
amor não dura para sempre…porque deixa de ser indispensável.
Nós gostaríamos de pensar que nos apaixonámos para
nosso deleite, que tudo teve a ver apenas com aqueles olhos negros com os
quais, um dia, nos cruzámos e que nada daquilo que teve a ver com a nossa
experiência pessoal, se inscreve em teorias científicas que quebram o
encantamento da relação e da história do nosso amor.
Gostaríamos muito mais que o mistério prevalecesse,
que fôssemos não só os únicos como igualmente a razão de ser de tão linda
história de amor que nada teve a ver com mais ninguém nem com o que quer que
fosse.
E, no entanto, foi tudo uma questão de altos níveis de
dopamina que são neurotransmissores que estimulam a actividade do sistema
nervoso central e à qual se juntou a feniletilamina e a ocitocina, químicos que
são normais no nosso corpo mas que se juntam para desencadearem a paixão. Com o
tempo, o organismo torna-se resistente aos seus efeitos e a “loucura” passa.
Mas, sejam quais forem os processos químicos, a relação
amorosa continua a ter qualquer coisa de sublime, de poético, que não se presta
a comparações com uma simples atracção sexual porque ninguém pensa
obsessivamente numa mulher apenas por um desejo sexual momentâneo que,
satisfeito, rapidamente leva ao esquecimento da relação, nem se circunscreve às
inexoráveis explicações do ponto de vista científico por mais correctas e
exactas que elas sejam.
É que, amanhã mesmo, mais homens e mulheres vão
iniciar o deslumbrante e arriscado processo de amor e ao fazê-lo vão ter a mais
importante experiência das suas vidas.
É certo que essas experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas eles não sabem isso, nem tão pouco lhes interessa.
É certo que essas experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas eles não sabem isso, nem tão pouco lhes interessa.
Eles vão ser autores e personagens de uma história de
amor que poderá muito bem ser a história da vida deles, aquela que valerá a
pena recordar quando a vida se for esfumando por entre o emaranhado dos anos.
Talvez algum deles seja escritor e não lhe baste
apenas a sua história de amor…ou prefira criá-la na sua imaginação em vez de a
viver…ou a recrie para esquecer uma má história de amor.
Com o amor romântico, como lhe chamam os estudiosos,
tudo é possível de acontecer.
É verdade que a fé religiosa tem aspectos em comum com
o enamoramento e ambos têm muitas das características da euforia induzida por
uma droga viciante.
Uma faceta, das muitas faces da religião, é o amor
intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus, acompanhado da
veneração de ícones dessa pessoa e é grande o reforço positivo que a religião
presta através de sentimentos reconfortantes e calorosos por sermos amados e
protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, do auxílio vindo
não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.
De igual modo, o amor romântico por uma pessoa real
apresenta a mesma concentração intensa no outro e também reforços positivos
pelos sentimentos que desencadeia com a ajuda igualmente de ícones que, neste
caso, poderão ser cartas, fotografias e até mesmo madeixas de cabelo como era
hábito no século XIX.
Podemos controlar o nosso comportamento, não podemos
controlar o sentimento do amor da mesma forma que também não se consegue
controlar a fome, a sede, ou o instinto maternal.
Se o meu amor me deixar eu posso controlar o meu
comportamento e não ir atrás dele, mas é impossível controlar os meus
sentimentos pela simples razão que sobre eles não tenho controle, só o tempo
poderá ajudar ou então, como diz o povo, sábio, procurando novo amor porque “o
mal do cão cura-se com o pelo do mesmo cão”.
Mas, vivendo muitos de nós rodeados por tantas pessoas
por que nos apaixonamos por uma e não por qualquer outra?
Mais uma vez a química parece ser a chave das
atracções entre as pessoas que, em princípio, se sentirão atraídas para aquelas
que têm um perfil químico complementar do seu de forma a equilibrarem-se.
Por exemplo, pessoas com altos níveis de serotonia
tendem a ser mais calmas enquanto as de altos níveis de dopamina são mais
agitadas e esta circunstância poderá constituir um factor de atracção entre
ambas para, de certa forma, se equilibrarem ou complementarem.
Certo, certo, é que os homens se apaixonam mais fácil
e rapidamente que as mulheres e de 4 pessoas que se matam por não suportarem o
fim da relação, 3 são homens.
Julga-se que as mulheres são mais apaixonadas mas os
estudos revelam que os mecanismos são muito parecidos, embora o estímulo visual
seja mais activo no homem do que nas mulheres talvez porque, nas eras do
antigamente, os homens tinham que olhar para as mulheres para tentarem perceber
as que tinham condições de lhes dar filhos saudáveis.
Em contrapartida, as mulheres, vá lá saber-se porquê,
revelam uma melhor memória recordando mais facilmente um relacionamento.
De qualquer maneira, o amor é imparável e se lhe é
colocado qualquer tipo de barreira o resultado será intensificá-lo ainda mais.
Num estudo efectuado com 32 pessoas loucamente
apaixonadas o que os cientistas observaram é que quando uma delas olha a
fotografia da pessoa amada a parte do cérebro que se torna activa fica bem no
interior do órgão pelo que se pode concluir que se trata de um sistema antigo e
primitivo.
Os cientistas envolvidos neste estudo acreditam que,
ligados ao tema do amor, temos três sistemas cerebrais diferentes:
- O primeiro trata do impulso sexual;
- O segundo do amor romântico, um estágio intenso de
sentimentos obsessivos associados ao parceiro;
- Um terceiro que tem a ver com a sensação de
segurança que se sente quando vivemos com alguém por muito tempo.
Posto isto, parece que o amor romântico não é uma
emoção mas várias emoções e acontece para que a pessoa apaixonada concentre a
sua energia numa única para um compromisso que dure, pelo menos, o tempo
suficiente para criar um filho.
Pesquisas efectuadas junto de 5000 pessoas de 37
culturas diferentes permitiram concluir que o amor tem um «tempo de vida» entre
18 a 30
meses, o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança.
Apesar de todas as pesquisas e descobertas, anda no ar
uma sensação de que a evolução, há cerca de 10.000 anos a esta parte, por algum
motivo, modificou nossos genes permitindo que surgisse o amor não ligado à
procriação.
Finalmente, de então para cá, o amor entre homens e
mulheres pôde acontecer e algumas delas puderam passar a olhar os homens como
algo mais do que máquinas de protecção.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home