sábado, maio 17, 2014

Que prazer, comandante...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 82










Na sala de estar começavam a organizar-se mesas de póker. O comandante passeou o olhar pelas cadeiras, mas só viu, de conhecido, o senador. Foi andando para onde ele estava.

- Oh! Bom dia, Comandante. Então como vamos de viagem? Já tem o horário de chegada em Recife?

- Amanheceremos no porto, se Deus quiser. E sairemos às cinco da tarde.

- Tempo bastante para almoçar com o Governador, discutir com ele uns problemas políticos. Ele me ouve muito, aliás todos os governadores do Nordeste acatam minha opinião e pedem-me conselhos. É que sabem da consideração que me tem Dr. Washington.

- É uma honra para mim, tê-lo a bordo, senador - sentava-se o comandante na cadeira vazia ao lado do parlamentar. - Uma honra e um prazer.

- Obrigado. Quem fica em Recife é o Othon ...

- Quem?

- O deputado que estava à sua esquerda. Rapaz de talento mas completamente avoado. Metido nesse desatino da Aliança Liberal. Ele e outros arrastaram a Paraíba para essa loucura, um Estado pequeno, que depende da Presidência da República para tudo, imagine.

 E, como sabe que a eleição está perdida, fica a inventar golpes e revoluções.

- Confesso ter ficado um pouco assustado ontem com aquela ideia de conspiradores a bordo...

- Um rapaz de futuro que está se estragando. Também bebe muito e não pode ver rabo-de-saia. Já de manhãzinha estava às voltas com as artistas por aí...

- Que artistas?

- Embarcaram no Rio. Uma companhia mambembe que vai dar espetáculos no Recife. Conjunto pequeno, quatro mulheres e quatro homens. As mulheres não estavam ontem na sala de jantar. Por isso o senhor não notou - apontava com o lábio: - Lá estão elas com Othon.

Veja se aquilo é maneira de um deputado federal se comportar... No deboche com mulheres de teatro... Na vista de todo mundo.

O comandante olhou: três moças, duas delas vestidas com calças compridas, numa ousadia quase escandalosa para o tempo, a terceira, num vestido leve e vaporoso, riam em torno ao deputado.

- E a quarta?

- É uma velha, faz papéis de criada... Deve estar por aí fazendo crochet... Passa o dia de agulha na mão.

Tinham sido vistos por Othon. O deputado acenava-lhes com a mão, aproximava-se acompanhado das artistas.

- Venham conhecer o nosso novo Comandante.

O senador cumprimentava com a cabeça, sem levantar-se da cadeira. Não gostava de ser visto em público em gracejos com gente de teatro. Vasco pôs-se de pé, curvou-se para apertar as mãos das moças.

- Que prazer, Comandante... - sorria a morena de seios fartos, ao lado de Othon.

- Me diga uma coisa, seu Comandante: esse bicho ainda vai jogar como ontem? Nunca passei tão mal em minha vida. Essa é minha primeira viagem por mar... - falava uma franzina e loira, de olhos grandes.

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