sábado, maio 10, 2014

que sejam palavras de esperança em homens melhores no futuro...
A Razão

e a Fé











Quando esta manhã me dirigi à livraria habitual para comprar o meu jornal, sim, porque eu sou dos resistentes que ainda compra o jornal diariamente, vi em cima do balcão um livro, pequeno, da autoria do Papa Francisco cujo título era a Razão e a e saí da loja a pensar, sinceramente, a que espécie de Razão estaria o bom do Francisco a referir-se.

Senão, vejamos, ele é o responsável máximo de uma Igreja que assenta numa doutrina que fala de:

. Um homem que há mais de 2.000 nasceu de uma virgem sem a intervenção de um pai biológico;

. Esse mesmo homem sem pai voltou à vida depois de morto e enterrado há três dias;

. Quarenta dias depois, o homem sem pai subiu ao cume de um monte e o seu corpo desapareceu nos céus;

. Se murmurarmos pensamentos na intimidade da nossa cabeça, o homem sem pai e o “próprio “pai” (que é também ele próprio) ouvirá os nossos pensamentos e poderá agir em conformidade com eles. Ele consegue escutar os pensamentos de todas as pessoas do mundo ao mesmo tempo.

. Se fizermos alguma coisa de mal ou de bem, esse homem sem pai vê tudo, ainda que mais ninguém o veja. Podemos ser recompensados ou castigados, conforme o caso, mesmo depois da nossa morte.

. A mãe virgem do homem sem pai não chegou a morrer porque, por via da “assunção”, acedeu directamente ao céu em corpo.

. O pão e o vinho, quando consagrados por sacerdote (que tem de ter testículos), “transformam-se” no corpo e no sangue do homem sem pai.

Naturalmente, todos sabemos que a religião é assunto de fé e quem sente necessidade de acreditar, acredita mesmo nas coisas mais inverosímeis... mas querer “vender” a fé juntamente com a razão é que não tem cabimento.

Por outro lado, o Papa Francisco não tem nenhuma hipótese de apelar à razão em questões de fé porque elas não são miscíveis, tal como a água e o azeite, para além de que as ovelhas do seu rebanho até agradecem que não fale dela... só lhes perturbaria a cabeça porque os pontos que atrás referi, base da doutrina da sua Igreja, não se compreendem, não se percebem à luz de qualquer Razão, destinam-se apenas a ser acreditados.

Martinho Lutero, responsável pelo Cisma da Igreja Católica, que ao seu tempo era mais Papista que o Papa a ponto de ter rompido com ele, para quem era Bíblia e só Bíblia, fé e só fé, Cristo e só Cristo, como diz o padre Carreira das Neves, tinha perfeita consciência de que a razão era arqui-inimiga da religião e muitas vezes advertiu para os seus perigos:

 - “A Razão é a maior inimiga da fé; nunca vem em auxílio das coisas espirituais, e as mais das vezes luta contra o Verbo divino, tratando com desprezo o que emana de Deus”.

E noutro passo:

 - “Quem quiser ser cristão deve arrancar os olhos à sua própria razão”. E mais adiante:

- “A razão deve ser destruída em todos os cristãos”.

Lutero foi, sem dúvida, um astuto observador da estratégia da sobrevivência e quando se tratava da sua religião os meios justificavam os fins.

Agora, o Papa Francisco parece querer conciliar Razão com Fé mas não deve ser, com certeza, a mesma Razão que tanto preocupava Martinho Lutero...

O Papa Francisco usa da razão quando analisa e faz o diagnóstico da sociedade na crise em que vivemos de uma forma acutilante como nenhum outro fez, e condena, corajosamente, as forças do poder que a controlam ou descontrolam...

Para além do título da capa não li mais nada e, portanto, não sei a que espécie de outra razão ele se refere mas, se é esta, ela não tem nada a ver com fé. Talvez esperança nos homens que agradecem todo o apoio e impulso que ele, Francisco, lhes possa dar para que sejam mais justos e menos gananciosos.

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