sábado, maio 03, 2014

UMA LIÇÃO

DE HISTÓRIA







6. Viragem os Anos 70
(continuação – parte XX)

 


Os anos de chumbo na Europa


Na europa, "os anos de chumbo" referem-se, grosso modo, aos anos 1970, embora alguns actos de violência política tenham sido cometidos na década anterior e também na seguinte.

Trata-se de um período marcado por numerosas acções terroristas, tanto de esquerda como de direita - sobretudo na Itália, na Grécia e na Alemanha - que os historiadores contemporâneos ainda não esclareceram completamente.


Dentre os mais notórios grupos armados de esquerda, estão o alemão, Fracção do Exército Vermelho, 1970-1988, mais conhecido como Baader- Meinhof, o francês Acção Directa e as Brigadas Vermelhas Italianas.
Alguns faziam parte de uma estratégia de apoio aos movimentos de descolonização, nomeadamente no Vietnam e outros de natureza anarquista.
Os grupos de extrema direita não tiveram a mesma exposição mediática, e duvidava-se até mesmo da sua existência, até o início dos anos 1980, quando passaram a ser referidos mesmo nos círculos oficiais, e, a partir de então, frequentemente relacionados às células stay-behind  e especialmente à rede Gladio.Gladio. De entre esses grupos, destacam-se o Ordine Nuovo e a Avanguardia Nazionale.

 

Alemanha


Na Alemanha Ocidental, a Fração do Exército Vermelho (Baader-Meinhof) participa de atentados, alguns contra bases da OTAN, cometidos à época da guerra do Vietnam. O grupo também sequestrou e matou um membro do patronato alemão e antigo integrante da SS Hanns-Martin Schleyer.
A RAF (Fração do Exército Vermelho) foi a principal e mais estruturada organização de extrema esquerda alemã, e desde meados dos anos 1970, contava com apoios na Bélgica, notadamente da parte de Pierre Carette - futuro dirigente das Células Comunistas Combatentes (Cellules communistes combattantes, CCC), que nos anos de 1984 e 1985, perpetraram 28 atentados no território belga. Com a francesa Action Directe, a RAF representará a corrente não marxista-leninista da guerrilha urbana, na Europa Ocidental.

 

França


A Ação Direta (Action Directe, AD, 1979-1987) foi uma organização de luta armada ativa na França, fundada por antigos militantes dos Gari, Grupos de ação revolucionária internacionalistas (Groupes d'action révolutionnaire internationalistes) e dos Napap — Núcleos armados pela autonomia popular (Noyaux armés pour l'autonomie populaire). Anti-impérialista de tendência marxista antileninista, a AD também beneficiará de algumas bases clandestinas na Bélgica.

 

Grécia


Na Grécia, o regime dos coronéis, que se havia instalado desde o golpe de estado de 1967, enfrenta atentados de alguns grupos armados, dentre os quais a Organização revolucionária 17 de Novembro, que só foi foi extinta em 2003.

 

Itália


Segundo o historiador Pierre Milza, depois de trinta anos, a interpretação do fenómeno do terrorismo que transtornou a República Italiana entre 1969 e o fim dos anos 1980 continua sendo uma tarefa difícil, tantos são os actores e tantas são as questões de política interna e internacional envolvidas.
Globalmente, segundo o historiador, o fenómeno traduz um confronto entre as democracias liberais e o "socialismo real".
A Itália foi abalada durante duas décadas por ações terroristas reivindicadas por grupos, incialmente de extrema direita e depois, de extrema esquerda.
As Brigadas Vermelhas - BR (Brigate rosse, 1970), a mais conhecida das organizações desse período, são simultaneamente um movimento político implantado nas fábricas e uma organização de luta armada. Identificadas com a corrente marxista-leninista pela fundação do Partido Comunista Combatente (PCC), elas serão referência para o CCC na Bélgica.
Actualmente, embora muito enfraquecidas, as BR ainda existem, sendo a mais antiga organização de guerrilha da Itália.
Segundo Agamben, "a classe política italiana, com raríssimas excepções, nunca admitiu francamente que tenha havido na Itália algo como uma guerra civil e tampouco concedeu à batalha desses anos de chumbo um carácter autenticamente político.
Os delitos que foram cometidos durante essa época eram, por conseguinte, delitos de direito comum e continuam sendo. Essa tese, com certeza discutível no plano histórico, poderia no entanto passar por inteiramente legítima, se não fosse desmentida por uma contradição evidente: para reprimir esses delitos de direito comum, essa mesma classe política recorreu a uma série de leis de excepção que limitavam seriamente as liberdades constitucionais e introduziram na ordem jurídica princípios que sempre foram considerados alheios a essa ordem.
Quase todos os que foram condenados, foram incomodados e perseguidos com base nessas leis especiais. Porém, a coisa mais inacreditável é que essas mesmas leis ainda estão em vigor e projectam uma sombra sinistra na vida das instituições democráticas.

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