terça-feira, maio 06, 2014

Com o meu sobrinho Victor José na praia de João Pessoa em 2006
Visita a João Pessoa

no Nordeste

Brasileiro em 2006










A cidade mais saliente de toda a América do Sul, João Pessoa, no Estado da Paraíba, é mais uma do nordeste brasileiro que se prepara, com os seus 34 milhões de eleitores espalhados pelos seus nove Estados, para ter um papel determinante no desfecho das próximas eleições ao canalizar maciçamente, cerca de 65%, de acordo com as intenções, os seus votos para o candidato Lula da Silva, também ele nordestino.

João Pessoa não tem ainda aeroporto internacional e por isso, para o bem e para o mal, está fora dos circuitos turísticos.

A Norte, Natal, está a cerca de 180 Km e a Sul, o Recife, a pouco menos e a estrada que a serve, o grande eixo N/S, em quase perfeitas condições de circulação se atendermos às grandes distâncias e ao facto de não estarmos na Europa.

 A viagem de avião de Lisboa a Natal decorreu bem ou não fosse ele o meio de transporte mais seguro e rápido de todos. Pena é, que na ânsia de ganhar dinheiro, as Companhias de Aviação façam lá dentro um aproveitamento do espaço até aos limites da incomodidade dos passageiros que viajam como sardinha em latas de conserva... Ainda bem que os ricos têm a classe executiva...

Coincidiu a minha presença de 10 dias em João Pessoa com a campanha eleitoral para as próximas eleições de Outubro e o que me foi dado observar nas ruas e na televisão dizem muito sobre as características desta comunidade e da forma como vivem a sua democracia que, provavelmente, não será muito diferente nos restantes países da América do Sul:

- Carros com aparelhagens sonoras debitando decibéis suficientes para qualquer concerto ao ar livre;

 -  Centenas, senão milhares de pessoas, principalmente jovens e mulheres, envergando t-shirtes todas iguais e empunhando grandes bandeiras com as cores e os símbolos dos partidos, que agitam calmamente enquanto desfilam com vagar e de forma apática pelas ruas e praças mais concorridas da cidade.

 - Parados, em locais estratégicos, gigantones com perucas exuberantes e trajes de cores vivas que parecem nada terem a ver com as acções de campanha política antes com uma qualquer festa tradicional.

 - Em momento algum vislumbrei, da parte de qualquer um destes personagens, sinais de entusiasmo, alegria ou interesse. Apenas figurantes passivos que deveriam receber qualquer coisa e a quem não se pedia mais nada para alem de estarem ali.

Nos momentos televisivos da campanha eleitoral vê-se de tudo incluindo o inacreditável:

- Um candidato, pessoa de idade, quase completamente desdentado, de tronco nu e de gravata ao pescoço;

- Outro que aparece vestido de super-homem;

- Outro ainda com um chapéu com cornos à semelhança dos adornos de cabeça dos vikingues:

-E, finalmente, um outro que prometia dar a cada criança e a cada mulher nordestina, respectivamente, um computador e uma máquina de lavar roupa.

O voto no Brasil é obrigatório por lei e todos estes candidatos não só vão receber votos como alguns irão ser eleitos…

Em contacto com os estrangeiros onde nós, portugueses, nos incluímos, revelam uma enorme simpatia embora nos confundam com "gringos" ainda que nos expressemos na mesma língua àparte o sotaque, evidentemente. 

 Muitos perguntam-nos qual a nossa nacionalidade com a desculpa de que são “duros de sotaque”. 

Respondemos que somos portugueses mas se nos afirmássemos, por exemplo, noruegueses, também não levantaria qualquer objecção mesmo quando nos fazemos entender na língua de Camões…

Numa abordagem descomprometida, os amigos e conhecidos do meu sobrinho, ouvem-nos aparentemente com muito interesse, quase desvanecidos, revelando uma convivência estranha marcada pelo isolamento pois, sem aeroporto internacional, os contactos com turistas não fazem parte do seu dia-a-dia.

Os investimentos turísticos efectuados nos últimos 10, 15 anos em Pipa, a norte, por estrangeiros não despertaram qualquer interesse nos brasileiros e como passaram de moda para os portugueses, de 8 aviões chaters semanais temos agora 1, o que lá fomos encontrar, na visita que fizemos, é a frustração de quem não sabe quando nem de onde virão os próximos clientes.

Mas em contrapartida desfrutamos da simpatia e disponibilidade das pessoas, das temperaturas amenas com amplitudes térmicas de um e dois graus, das ostras fresquinhas que nos vendem nas esplanadas das praias a preços mais que acessíveis, das águas do mar que quando entramos estão tépidas e à saída estão quentes e dos preços, que em reais, correspondem a três vezes mais do que os euros, razão mais que suficiente, para irmos de abalada até João Pessoa.

Mas o ponto alto da minha visita a João Pessoa foi o pôr-do-sol na praia do Jacaré ao som do Bolero de Ravel que constitui um requinte de excelência e de hospitalidade para com os seus poucos visitantes.

Por coincidência, nessa tarde, o sol escondeu-se envergonhado, encoberto pelas nuvens, mas mesmo assim deixava passar alguns dos seus raios.

Foi comovente ouvir, primeiro o saxofonista que em pé, num pequeno barquinho, nos vai dando os primeiros acordes da música enquanto suavemente se aproxima.

De seguida, sabendo escolher o momento, de trás de nós, que estamos sentados virados para o braço de mar e para o pequeno barco que transporta o saxofonista, começamos a ouvir também o violinista que se encaminha lentamente na direcção do pequeno cais para se juntar ao outro músico enquanto o Bolero vai ganhando cada vez mais expressão musical também por força do acompanhamento da orquestra que se vai ouvindo pelas colunas do sistema de som existente.

Entretanto, lá ao fundo, na outra margem, já não há vestígios do sol na linha do horizonte quando a música em tons triunfantes também chega ao fim, como o dia.

Em suma, são momentos que marcam e se recordarão para toda a vida.

Em termos gastronómicos fiquei completamente rendido ao Açaí. É o fruto de uma palmeira da Amazónia de seu nome Euterpe Precatória cujo consumo está agora a difundir-se e a procura a aumentar a ritmo acelerado.

A sua polpa é utilizada para sumo e fabrico de gelados mas o seu delicioso sabor só é comparável ao seu potencial energético cientificamente comprovado.

Veja só, comparando com o leite de vaca:

- 4 x mais poder energético;
- 3 x mais lípidos;
- 7x mais carboidratos;
- 118 x mais ferro;
- 9 x mais Vitamina B1; Proteínas e Cálcio equivalentes;
- Combate o Colesterol e os Radicais Livres.

É servido em tigelas meio congelado pelo que deve aguardar que chegue à temperatura natural para que não se perca para o frio nenhum dos seus sabores.

Se for a João Pessoa não esqueça o Bolero de Ravel ao pôr do sol na praia do Jacaré, o Açaí e dê um saltinho a Pipa para um fim de semana.


Nota - Passaram oito anos e quantas coisas aconteceram... desde logo, a mais grave, a morte do meu sobrinho que sofria de doença fatal, o que foi uma perda irreparável. Continuarei sempre a ouvir a sua voz pelo telefone:

-  "...então, como vais meu querido..."

Depois, a inevitável eleição de Lula da Silva, espécie de prémio que saíu aos brasileiros, para além do petróleo e agora, dentro de umas semanas, o Campeonato do Mundo de Futebol que tanta polémica está levantando.

Tudo de bom para os meus amigos brasileiros, em especial os nordestinos, de João Pessoa, que conheci pessoalmente e os outros pela pena do meu escritor de eleição Jorge Amado. 

Site Meter